16/11/10

A minha tia raquel e os estados de alma do ministro

A minha tia Raquel tinha achaques. No tempo quente não saía de casa, no tempo frio também não. Nas estações intermédias, que as havia, melhorava. Ainda assim, pelo menos uma vez por semana era certo e sabido que a iríamos encontrar, ora suspirando melancolicamente pelos cantos, ora guinchando esdruxulamente com a vizinhança. Os estados de alma da minha tia era incompreensíveis.
Podia agora continuar a falar-vos da minha tia Raquel, mas como ela própria me diria "não maces as pessoas e vem para dentro".
Já o Amado é outro assunto. Disse o próprio, a propósito das suas declarações ao Expresso este fim-de-semana, que aquelas não passaram de "desabafos sobre estados de alma".
Confesso que não li a entrevista. Contaram-me que a dada altura Amado apelava a um governo de salvação nacional ou coisa parecida. Vou deixar de lado o que eu acho sobre isto não ter salvação possível que ninguém me perguntou. Mas "os estados de alma" ficaram-me atravessados.
Então aqui há uns tempos, após recusar-se a votar num pirómano de livros para director da Unesco, Carrilho não foi acusado precisamente do mesmo, acabando, aliás, et pour cause!, por ser corrido do cargo? (Com o hiato temporal diplomaticamente adequado...)
Ou seja, quer dizer, um simples diplomata não pode ter um achaque em privado mas já o ministro pode desabafar em público e não lhe acontece nada?! Nem sequer o convidam para o lugar do Sócrates?
[também publicado aqui]

4 comentários:

trepadeira disse...

Depois der tantos achaques o tal lugar do outro é a alternativa ao internamento.
Um abraço,
mário

pennac disse...

http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=453975

Estou em crer que isto é mais ou menos verdade.

João Lisboa disse...

"gUinchando".

svasconcelos disse...

Penso que o seu desabafo traduz, não mais que, a sua vontade de ocupar o lugar de sócrates... com o devido apoio empresarial, ou não fosse esta política bem sustentada pelo poder económico...