09/11/10

A merda das elites e porque o homem sempre me provocou urticária o Sócrates como arquétipo dos políticos farinha amparo [e estou a ser delicada]

Numa entrevista ao João Lisboa, o Caetano usou a expressão. “Merda das elites”. Pois merda das elites é o que para aí mais há. Tanta, tanta merda, que um dia destes mesmo com baixa mar vamos ficar atolados.
Vou dar um exemplo. Há umas semanas fui ouvir o Eduardo Lourenço. O senhor já passou a barreira dos 80 e era o melhor da sala. Humana e intelectualmente, nenhum dos presentes lhe chegava sequer aos calcanhares. Não acham assustador? Pois eu acho. E tanto mais assustador quanto o resultado deste vazio de ideias é a multiplicação de pinhos, linos e socretinos que nos rodeiam por todos os lados (à esquerda, à direita e ao centro).
Eu sou do tempo (e não sou assim tão antiga...) em que uma pessoa ouvia um político e, descontada a demagogia inerente à actividade, podia-se concordar ou discordar. Podia-se até ter vontade de o esganar. Hoje? Hoje perdeu-se o mínimo denominador comum. Como discutir com cavalgaduras que acreditam em painéis solares que funcionam com sol, céu nublado, chuva e até noite cerrada?!
O caso do Sócrates é, neste sentido, paradigmático. O homem não tem uma Ideia. Na realidade, nem sequer uma sombra de uma Ideia. Limita-se a adoptar a última novidade, trocando as casas de pato-bravo pelo kitsch envidraçado, os fatos da Maconde pela corte à House of Bijan.
O fitness é o que está a dar? Tirem-se muitas fotografias em calções para emoldurar nos jornais.
As alternativas é o que está a dar? Encha-se o país de moinhos de vento e o consumidor que pague a factura.
A informática é o que está a dar? Distribuam-se Magalhães e dividendos pela JP Sá Couto e o desenvolvimento do raciocínio das criancinhas que se dane.
A causa gay é o que está a dar? Entretenha-se o pagode com o casamento homossexual enquanto o Vara recebe robalos.
O digital é o que está a dar? Invente-se um Simplex e mantenham-se as moscas.
A China é o que está a dar? Lamba-se o cu aos chineses e que se lixe a hipoteca mais os direitos humanos.
Pragmático? Não, um imbecil robótico. E dada a velocidade da sua reprodução das ervas talvez o futuro lhe pertença. Em versão Xerox.
Fake por fake Que Viva Las Vegas!

18 comentários:

Manuel Vilarinho Pires disse...

Ana,
Ao falar do Sócrates, especulo não esteja a falar do Sócrates, mas a descrever todos os líderes partidários.
A fundamentação do que digo a seguir não cabe num comentário aqui, pelo menos com a minha miserável falta de capacidade de síntese, mas tenho uma boa notícia e uma má notícia para lhe dar:
A boa notícia é que este problema tem remédio; a má notícia é que é impossível remediá-lo sem um golpe de estado. E com um golpe de estado muito menos...

PS: (já percebi que não tem a paciência de chinês que é requerida para ir desvendando estes segredos gradualmente, de modo que lhe digo já que) o remédio é a eleição dos deputados à AR em círculos uninominais.

PS2: Quem fala assim não é gago, se bem que possa parecer...

Anónimo disse...

Há cerca de dois anos e meio criei no meu último livro uma personagem repelente, o "trapaceiro das berças" que apesar de várias metáforas era perfeitamente identificável como o engenheiro da mediocridade e da inovação. Insurgi-me também (que ousadia!) contra a maçonaria, o polvo de infinitos tentáculos que domina o país. Era um livro politicamente incorrecto, por essas e outras razões, e escusado será dizer que foi atirado para o lixo por uma comunicação social cada vez mais lacaia do capital e do poder, cada vez mais obediente ao sistema e às suas manifestações. Hoje, não há jornalismo independente, seja político ou cultural. Residem todos no mesmo pântano, dão facadas e palmadas nas costas uns dos outros, conspiram, intrigam, assobiam para o ar. São felizes à sua maneira, odeiam-se e protegem-se ao velho estilo das corporações. Sobrevivem. Antes do 25 de Abril havia uma censura incipiente e bacoca ao serviço de um fascismo bronco, tipicamente português. Hoje é uma mordaça mais sofisticada e generalizada que nos rouba a voz. E a carteira. E a dignidade.
Não me identifico pela razão óbvia de não me querer promover.

Unknown disse...

A terminação ("Que viva las Vegas") é o jackpot deste post, mas o link faz batota (indica a tag, e não o post, o que pode dificultar a vida aos jogadores que não jogam com o baralho todo).

fallorca disse...

«Fake por fake», Leoparda, referes-te a algum book?

Anónimo disse...

Faltou referir o famoso carro electrico com baterias de 250kg de duração misteriosa, etc.
Devem ser como a banda gástrica - não cura ninguem mas dá jeiro ao jet médico e diversifica a paisagem.

Diogo C. disse...

o sócrates é o passageiro 52.

Anónimo disse...

Fallllllorca, velho rapazinho, por que não vais brincar com a tia ou com a prima?

E essa da Leoparda é digna de génios, ao nível do Goucha ou do Trouxa. Portugal no seu melhor.

Não consegues fazer mais?

"Fake por fake", nunca perdes uma oportunidade de dizer que existes.

Existes?

Anónimo disse...

Uma vírgula a seguir à "urticária", penetrava mais fundo esse tal de Sócrates …

fallorca disse...

Nandinho, parece que sim, dirigiste-te a mim... ahahah

Anónimo disse...

A pastelaria está a ficar muito cinzenta. É preciso humor. Troca de mimos. Alfinetadas.E tu és bom nisso. Ainda bem.

Sim, existes.

Ana Cristina Leonardo disse...

luís, respondi-lhe lá no outro tasco
morgada, já corrigi (obrigada)
fallorca, já foste a Las Vegas?
Anónimo que eu sei quem é, tempos de plástico...
Para o resto dos anónimos, a vossa existência anónima deixa-me perplexa.

Táxi Pluvioso disse...

Elites. E o povo é diferente?

Manuel Vilarinho Pires disse...

O Luís é para mim?

fallorca disse...

Leoparda, não fui a Las Vegas; delegaram em mim a tarefa de levantar o corpo de «Um anão espanhol suicida-se em Las Vegas» (Francisco Casavella).
Depois tomarás conhecimento das exéquias ;)

Ana Cristina Leonardo disse...

manuel, coro. estava com a cabeça algures. agora onde é que não consigo perceber.... Camões?

Manuel Vilarinho Pires disse...

Pior do que isso, desvendou-me o pseudónimo e devassou-me o anonimato!
Eu não me chamo Manuel Vilarinho Pires, pseudónimo que uso para salvaguardar o anonimato, mas sim Manuel Luís Vilarinho Pires.
Doravante, vou passar a ter mais cuidado com o que escrevo...

Camões???
Hum... o único 10 que tive em todo o liceu foi no 3º período do 5º ano a Português, a fingir que lia os Lusíadas (excepção feita à página 273, e ao canto IX de uma maneira geral, que lia, claro!). Mas, vá lá, depois fiz as pazes com ele.

Nelson Reprezas disse...

Por uma questão de rigor. O Vara nunca deu robalos. Recebeu, o que faz toda a diferença... :)

Ana Cristina Leonardo disse...

Espumante, tem toda a razão. É tanta coisa que uma pessoa baralha-se