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Dito isto. Não sei se ainda se lê Melville.
Quanto a Billy Budd, agora reeditado numa tradução de José Sasportes que recua a 1963, o texto só ficaria acessível 33 anos após a morte do autor de Moby-Dick, descoberto por acaso entre os seus papéis. Novela de aventuras náuticas (claro), carregada de nuvens que anunciam tempestade, é um daqueles livros que permitem as mais diversas interpretações, da cristã à queer, sem que isso o belisque minimamente.
Billy Budd encena uma tragédia e o marinheiro homónimo do título será o cordeiro do sacrifício. Exemplo do eterno confronto entre o Bem e o Mal, Melville descreve-nos um herói sem mácula — belo, corajoso e puro — que, ao ser forçado a trocar a vida livre de marinheiro pela de tripulante de um navio de guerra, despertará invejas e ódios que lhe custarão a vida. Porque Billy, personagem da família dos deuses, exibe um defeito aparentado ao de Aquiles; no caso dele, a gaguez, o que se traduzirá pela ausência de eloquência no momento decisivo.
Na sua inocência, o “marinheiro ideal” será incapaz de ler os avisos de perigo, restando-lhe cumprir o destino. Ao invés de Claggart, seu rival demoníaco, Billy não domina a retórica. Perante a falsidade das acusações que pesam sobre si sobrar-lhe-á o gesto irreflectido que o conduz a tribunal, com o capitão do navio, que o admira, a ter de escolher entre a justiça e a lei. Em resumo: a grande literatura a falar do que verdadeiramente interessa.
Billy Budd, Herman Melville, Biblioteca editores Independentes, 2010, trad. José Sasportes
1 comentário:
oRA BoLaS:
AtÃO o Querelle, O de Brest???
é que o Genet não faz 100 ânus este Dezembro? Brincamus ou Quê?...
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