21/08/10

O eterno retorno: pois é, Schulz também não correspondia ao protótipo e acabou assassinado a troco do dentista que também não correspondia ao que seja

[Nota prévia sobre o título deste post seguida de nota prévia sobre o vídeo protagonizado pelo actual ministro do interior francês
1. Bruno Schulz, artista polaco de origem judaica, conseguiu sobreviver algum tempo à "solução final" sob a protecção de Felix Landau, membro da Gestapo que admirava o seu trabalho, acabando por ser assassinado em retaliação por Karl Günther, nazi rival de Landau a quem este matara o dentista privado ("Mataste o meu judeu, eu matei o teu");
2. No vídeo de Setembro de 2009 pode ouvir-se Brice Hortefeux comentar, a propósito do jovem francês de origem árabe com quem posa para a fotografia: "Ele não corresponde de todo ao protótipo.... É sempre preciso um.... Um está bem. É quando há muitos que aparecem os problemas..." Eloquente.]




Entretanto, a argumentação avançada por Brice Hortefeux para justificar a expulsão de 700 ciganos do território francês parece tão datada como a própria natureza humana (que é o que é).
Em resumo, Hortefeux diz isto: quem os defende não tem que levar com eles, ricalhaços da esquerda bem-pensante que vivem longe do povo e das suas preocupações.
Este género de conversa lembra-se sempre o Viridiana do Buñuel mais o seu leproso miserável que era obrigado pelos pares a carregar um chocalho.
Que fique claro, pois: não nutro nenhuma simpatia de princípio pelos pobrezinhos (compaixão é outra conversa e convém que seja universal).
Mas que fique também claro que não é isso que está em causa. O que está em causa é perseverar ou não em ideias morais, por muito impopulares que estas sejam.
Nesse particular, a posição de Obama sobre a construção de um centro cultural islâmico a dois quarteirões do Ground Zero mete num chinelo o pragmatismo da direita francesa (a que veio juntar-se, sem surpresa, a italiana).
E esclareça-se que se não nutro nenhuma simpatia de princípio pelos pobrezinhos, muito menos pelo Islão.

8 comentários:

fallorca disse...

Leoparda com garra afiada, e nada se nail by nail, ou snail, fiufiu...
Aperta cá as aduelas :)

Ana Cristina Leonardo disse...

Considera a coisa feita (quero dizer, as aduelas e tal).

Táxi Pluvioso disse...

No final do day, e Pedro negou 3 vezes, sempre há simpatia de princípio pelos pobrezinhos. boa semana

Cristina Gomes da Silva disse...

Muito bem, Ana Cristina! Abraço

Ana Cristina Leonardo disse...

Cristina, esta história dos ciganos é um nojo. Mas mais nojo me mete ainda o silêncio de certa esquerda, sempre tão célere na defesa de causas de merda (e peço desculpa pelo radicalismo linguístico e ideológico, mas é que isto irrita-me mesmo).

Cristina Gomes da Silva disse...

Os ciganos não dão votos, minha cara, são nómadas.

Ana Cristina Leonardo disse...

cristina, nunca tinha visto a coisa por esse prisma, mas, sim, faz sentido...

luís simões disse...

Poia, é, os roma são um povo que sempre viveu à margem da sociedade, num exílio perpétuo. Não à margem da história, pois, só na solução final nazi foram eliminados cerca de 500.000 ciganos. Disto pouca gente tem consciência e ninguém fala. Até porque os ciganos não se estão sempre a lamuriar do horror que lhes aconteceu, ao contrário dos judeus. Recomendo, mais uma vez, o livro «Enterrem-me de Pé», da Isabel Fonseca (Editorial Teorema)

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