E é uma merda, basicamente por isto: o meu vizinho do quinto esquerdo bate na mulher, espanca o cão, grita com a mãe, deita lixo pela janela, cospe na rua, abalroa velhinhas no supermercado, buzina o carro às três da manhã, empanturra as crianças de estalos e MacDonald's, ouve televisão aos berros, faz incursões semanais ao Colombo, não grama pretos nem monhés e é feio que nem uma porta. Felizmente não é meu vizinho. Mas podia ser.
Porque o ponto é este: um troglodita que vive na Idade da Pedra e que ainda terá de reencarnar pelos menos umas 100 vezes, como rato, até regressar de novo como hominídeo tem exactamente os meus direitos do que eu.
Desabafo feito, não tenho alternativa. Ou talvez tenha: abalroá-lo um dia destes pelas escadas e esperar que ninguém me veja.
Não me interpretem mal. Sou pela Lei como forma de regulação da selva que isto seria (ainda mais) se a Lei não existisse. Sou pela Lei e pela Democracia porque todas as outras formas de Poder me parecem mais perigosas. Em privado, contudo, estou também com o cidadão que tenta resolver certas coisinhas pelas suas próprias mãos, se assim puder e não tiver escolha.
Resumindo: sou contra a pena de morte (em absoluto e sob qualquer circunstância), mas se o troglodita do quinto esquerdo envenenasse a minha cadela e saísse impune teria de se haver comigo. Não digo que lhe pusesse vidro picado nos hambúrgueres (tenho alguma dificuldade em lidar com a vingança servida como prato frio…), mas havia de me lembrar de qualquer coisa. Menos cruel, embora certamente proporcional.
Outro exemplo: percebo melhor a operação “Cólera de Deus” da Mossad do que a invasão do Iraque mesmo se ratificada pela ONU.
E isto é na realidade tudo o que me apraz dizer sobre o Estado de Direito, atrás do qual se escudam todos os trogloditas enquanto a democracia lhes dá jeito. Digo-o por experiência, por nunca ter feito o meu género passar-me por virgem pudica e, last but not least, por ter lido O Processo de Kafka.
Resumindo: sou contra a pena de morte (em absoluto e sob qualquer circunstância), mas se o troglodita do quinto esquerdo envenenasse a minha cadela e saísse impune teria de se haver comigo. Não digo que lhe pusesse vidro picado nos hambúrgueres (tenho alguma dificuldade em lidar com a vingança servida como prato frio…), mas havia de me lembrar de qualquer coisa. Menos cruel, embora certamente proporcional.
Outro exemplo: percebo melhor a operação “Cólera de Deus” da Mossad do que a invasão do Iraque mesmo se ratificada pela ONU.
E isto é na realidade tudo o que me apraz dizer sobre o Estado de Direito, atrás do qual se escudam todos os trogloditas enquanto a democracia lhes dá jeito. Digo-o por experiência, por nunca ter feito o meu género passar-me por virgem pudica e, last but not least, por ter lido O Processo de Kafka.
* No original, “Those are my principles, and if you don't like them... well, I have others", Groucho Marx
[Ocorreu-me este desabafo a propósito disto]
[Ocorreu-me este desabafo a propósito disto]
3 comentários:
Tenho-lhe a dizer: adorei.
Brindo o seu carácter.
muito obrigada, henrique. diz quem me conhece que tenho bom carácter mas muito mau feitio. opiniões
Pura verdade! E disseram-me que estás (ainda) mais magra, fiufiu...
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