25/10/09

Ainda o Saramago e o marketing antijeová

«Saramago não disse mais do que se dizia nas folhas anticlericais do século XIX ou nas tabernas republicanas no tempo de Afonso Costa. São ideias de trolha ou de tipógrafo semianalfabeto, zangado com os padres por razões de política e de inveja. Já não vêm a propósito.»
Vasco Pulido Valente, "Uma farsa". Público. 23.10. 2009
Ou como me dizia um amigo: «É como se alguém lesse as Fábulas de La Fontaine e achasse que aquilo era mesmo sobre cigarras e formigas».
Já depois de ter feito este post, descobri que há um kit Saramago ateísmo para donas de casa modernas, e que aos 100 primeiros compradores serão oferecidos action man de José Saramago.
Não podia deixar de vir acrescentar estas preciosas informações.

20 comentários:

Anónimo disse...

É particularmente interessante que um indivíduo que escreveu uma série de romances alegóricos e fantasiosos recuse aos outros livros o tipo de leitura que reclama para os seus. Ou devemos achar que na cabeça de Saramago há mesmo uma possibilidade da Península ir por aí à deriva, ou da gripe A ser relegada para segundo plano por uma cegueira geral inexplicável?

Ana Cristina Leonardo disse...

cegueira ou burrice?

Carlos disse...

A crónica do Vasco Pulido Valente que a Ana Cristina Leonardo parcialmente transcreve é um nojo. Atacar alguém com base na sua (pouca) escolaridade parece-me um pouco idiota.

F disse...

Devo dizer que li o Memorial de um Convento com bastante prazer. Interrompi a leitura das Intermitências da morte (o ritmo cansa-me um bocado, mas gosto da ideia).
Compreendo o que dizem sobre as leituras fantasiosas, mas, no pequeno debate na TV entre Saramago e o Padre Carreira das Neves, não fiquei com a ideia que Saramago recusasse outros tipos de leituras. A ideia com que fiquei é que ele apenas admite, também, a leitura literal e faz um exercício sobre isso mesmo.
Resta-me dizer que não li a bíblia nem o Caím.

Ana Cristina Leonardo disse...

Carlos, acho que está a ser injusto. Porque não se trata de atacar ninguém pelo grau de escolaridade. Trata-se de reconhecer que a escolaridade é importante. Coisa, aliás, que a própria Igreja sabia e por isso insistiu tanto tempo no latim como língua oficial (da Bíblia e da missa)

F, fazer leituras literais é o que faz qualquer fundamentalista. De um escritor, como diz o Rui, espera-se uma maior abertura à metáfora. Pelo menos.

fallorca disse...

O que é um facto é que não ouço/leio falar/escrever sobre outra coisa.

Carlos disse...

«É a extraordinária importância que lhe deram criaturas com bom senso e a escolaridade obrigatória.»

Lamento, mas não há outra leitura: isto é ridicularizar e desqualificar alguém com base na sua pouca escolaridade. Aliás, a crónica é quase toda dedicada a isso. Claro que VPV é livre de o fazer, como eu sou livre de achar que é lamentável. Ou, dito de forma mais expressiva, um nojo.

Quanto à exegese dos textos bíblicos, que é aquilo a que todos se agarram para atacar Saramago, lembro que ainda há poucos anos a própria Igreja não era muito favorável à interpretação dos textos bíblicos. Sabe que escreveu sobre isso, não propriamente defendendo a Igreja mas antes o direito à blasfémia? Pode conferir aqui: http://o-espectro.blogspot.com/2006/03/o-direito-blasfmia.html Enfim.

(Já agora: não li isso no blogue da Ana Cristina, mas toda a gente gaba o estilo do VPV. Eu também acho o estilo importante, mas valorizo-o mais na literatura propriamente dita. Na crónica social e política prefiro o conteúdo, de preferência decente e com alguma ética. Mas que sei eu. Se calhar sou eu que sou sisudo.)

F disse...

Pronto. Depois de reflectir um bocadinho cheguei a esta conclusão.

margarete disse...

tb acho pateta e não são ideias de trolha, por ser trolha, poupem-me

são ideias de zangada mas não por ser trolha ou semianalfabeto

fallorca disse...

Leonidas, andas pelo Sul? Pelo Gharb?

Ana Cristina Leonardo disse...

fallorca, regressei há pouco e estou prestes a voltar. Porque perguntas? Também tu?

Ana Cristina Leonardo disse...

Carlos Azevedo, sisudo! Também? Ó caraças.
F. e concluiste muito bem
Margarete, não percebi nada mas uma pergunta: estás a favor ou contra os trolhas?

margarete disse...

não há paciência para a alusão à formação académica para justificar a idiotice de outrem
ademais, não consigo deixar de imaginar que a pessoa tem de ter (nem q seja altamente secreto)enorme défice de auto-confiança para ter de recorrer a tal argumento

qt aos trolhas, neste momento, por ex, estou contra 1 trolha, o Sr Julio que não vai lá a casa antes de Sábado p/arranjar o telhado

F disse...

... mais do que isto é Jesus Cristo,
que não sabia nada de finanças,
nem consta que tivesse biblioteca...

Carlos disse...

Rui Tavares, bem menos sisudo do que eu, na edição de hoje do Público:

«Chego à polémica sobre o novo livro de José Saramago com mais de uma semana de atraso.
Espero que me perdoem. Aproveitei para ler o livro.
Sim, eu sei que não era propriamente necessário, mas que diabo, um dia não são dias. Caso contrário, pensei, restar-me-ia dizer que Saramago é um ignorante filho de ignorantes cuja opinião não precisa de ser considerada. Ou sugerir que qualquer medíocre com disciplina pode ganhar um Nobel da Literatura - tal como eu, se treinar muito o drible e o chuto na bola ainda poderei um dia chegar a Eusébio. Ora ninguém me paga para escrever a crónica de Vasco Pulido Valente, não é verdade?»

Definitivamente, o meu voto para o Parlamento Europeu foi muito bem empregue!

Anónimo disse...

O F foi Fantástico ao referir Fernando (Pessoa).

Sofia Aguarela.

Nuno Dempster disse...

Ainda hoje estive a reler o Génesis. Se aquele deus é cruelmente gratuito, no que se segue passa a deliberado. Não há ali metáforas. O sentido que se retira é o do domínio do divino sobre o humano. Quem o escreveu, sabia bem como gerir o poder.

Táxi Pluvioso disse...

Vasco Pulido Valente é um bom exemplo do efeito nefasto das drogas. A nicotina mata tantos preciosos neurónios que as pessoas ficam simplesmente idiotas.

F disse...

Táxi, essa está MESMO boa! LOL

rui g disse...

«Vasco Pulido Valente é um bom exemplo do efeito nefasto das drogas. A nicotina mata tantos preciosos neurónios que as pessoas ficam simplesmente idiotas.»

Outra explicação é a herança do Neanderthal. Se os comentários do Saramango foram, de facto, algo disparatados, a verdade é que o livro, para mim, é muito bom.