19/06/09

A propósito da famigerada arrogância de Sócrates gostava de dizer que há arrogantes de quem gosto muito

Para que não restem dúvidas: não me parece que a arrogância seja, em si mesma, um mal. Aliás, poucas coisas me parecem, em si mesmas, um mal.
Daí que eu obedeça a poucos mandamentos. Nunca os contei mas duvido que somados dêem 10...
Esclareça-se: não me sinto moralmente debilitada por isso. Tenho para mim que o que se diz dos pássaros aplica-se na perfeição aos princípios: mais vale um na mão do que dois a voar...
Mas voltando ao assunto deste post.
A arrogância pode ter várias interpretações. Por exemplo, na minha geração se um tipo nascia no Restelo e tratava mal um empregado de mesa era considerado arrogante. Já se nascesse em Alcântara, bairro que fica mesmo coladinho, idêntico comportamento fazia dele um malcriado.
Claro que para o empregado de mesa a diferença residia sobretudo na gorjeta, o que, em determinadas circunstâncias, pode ser uma diferença ENORME.
E é chegados aqui que somos obrigados a concluir que, apesar da aritmética simples do Singer, a ética é um assunto complicado para caraças.
Mas voltando ao assunto deste post.
Insistem alguns em ver na arrogância do primeiro-ministro a razão da sua queda anunciada. O Senhor Comentador, porém, soube pôr o dedo na ferida:
«Sócrates é como é (...) É agressivo? É. É chato? É. Acha que está sempre certo? Acha. Estamos fartos? Estamos. Mas a arrogância é insignificante no meio de tudo isto. As boas maneiras não são para aqui chamadas. O que interessa são as suas decisões. Apenas e só. Se concordamos com elas, pode, para nós, arrogar à vontade. (...) Ou como diria o outro, não é a arrogância. É a política, estúpido».
Plenamente de acordo. Mas permitam-me um acrescento pessoal. Só aos génios se deve conceder o direito à arrogância, nunca aos estúpidos. Eu, pelo menos, oferecer-me-ia sem problemas para servir cafés ao Oscar Wilde e ouvi-lo responder: «Ah! Não me diga que concorda comigo! Quando as pessoas concordam comigo, tenho sempre a impressão que estou errado».

4 comentários:

Victor Gonçalves disse...

Concordo consigo.
Ainda sobre Oscar Wilde, parece que um dia lhe perguntaram numa alfândega dos USA se tinha alguma coisa a declarar. Respondeu: apenas o meu génio.

Génio, aliás, que é bem mais difícil de distinguir do que parece.

Ana Cristina Leonardo disse...

de facto, a arrogância é mais fácil de identificar do que o génio e, infelizmente, bem mais comum

Anónimo disse...

O problema de Sócrates é que o homem nem sequer consegue ter mau génio. Tem apenas aquela desfaçatez, ressaibo e reacção despropositada dos pobres espírito. Eu gosto bastante de gente com mau génio, ou, mais prosaicamente, a quem a mostarda lhe sobe com facilidade ao nariz. De Sócrates, não.

Ana Cristina Leonardo disse...

mau génio é ainda outra conversa.