24/01/08

Acho que percebo o sentido disto mas desconfio que não me favorece [com ligeira alteração]

Foi quando o eléctrico parou no semafóro, paralelo ao edifício cor de rosa de canto, que a coisa me saltou à vista como um coelho aos pulos na cartola da infância.
Explico: várias páginas de revista, em cada uma um rosto de mulher que mal distingo, forram - a espaços - as janelas do primeiro andar com varanda. À distância da minha ligeira mas não ligeiríssima míopia parecem-me os cabelos antiquados, a condizer com o nome queiroziano a todo o comprimento da fachada que dá para a rua principal onde o eléctrico continua parado, à espera: Cabeleireiro Maria Eduarda.
(O que me chama a atenção é estar estranhamente Maria Eduarda lá em cima, no primeiro piso, na direcção do qual já em movimento rodo a cabeça, e não no rés-do-chão escancarado à rua.)
Com o sol prestes a desaparecer na curva, lembro-me de mim criança e das tardes passadas nos (agora) desaparecidos gineceus, onde me levavam tias velhas e primas casadoiras, eu brincando com rolos grossos, peludos e ásperos, elas dedicando-se a mises e ripados e permanentes e bananas, tudo regado a uma chuva de laca que se desfazia em gotículas até chegar a casa e depois escrever sobre isto de estar Maria Eduarda lá em cima (que deve querer dizer ainda alguma coisa). As tias mortas.

3 comentários:

Táxi Pluvioso disse...

Pior foram aquelas modas em que as mulheres usavam o cabelo em forma de volumosa touca. Lembro-me, em puto, de me ter sentado atrás de uma e fazer uma ginástica do caraças para ver o ecrã num filme do James Bond.

Agora vou ler o post melhor. Estou com falhas na net, e tenho de comentar antes de ler, (bem à portuguesa), não vá isto ir abaixo.

Joana Lopes disse...

Pode ser experimentar a Maria Eduarda - nunca se sabe, pode ser uma relíquia...

Luis Eme disse...

Bonita lembrança...