Paris, Novembro 2007
«Dissemos que o objecto do Espírito não é se não ele próprio. Nada há de mais elevado do que o Espírito, nada seria mais digno de se tornar no seu próprio objecto. O Espírito não encontra paz, não pode ocupar-se de mais nada antes de se conhecer e saber o que é (...) O Espírito deve, pois, chegar ao saber do que é verdadeiramente e objectivar esse saber, transformá-lo num mundo real e produzir-se a si próprio objectivamente. É esse o fito da história universal. (...) O Espírito não é um ser natural, como o animal que é aquilo que é imediatamente. O Espírito produz-se a si próprio, faz-se a si próprio o que é. O seu ser não é existência em repouso, mas actividade pura: o seu ser é ter sido produzido por si, ter-se tornado por si, ter-se feito por si. Para existir verdadeiramente é necessário que tenha sido criado por si: o seu ser é o processo absoluto. Esse processo, mediação de si próprio consigo próprio e por si próprio (e não por um outro) implica que o Espírito se diferencie em Momentos distintos, se entregue ao movimento e à mudança e se deixe determinar de diversas maneiras. Esse processo é também, essencialmente, um processo gradual, e a história universal é a manifestação do processo divino, da marcha gradual através da qual o Espírito conhece e realiza a sua verdade. Tudo o que é histórico é uma etapa desse conhecimento de si. O dever supremo, a essência do Espírito, é conhecer-se e realizar-se. É o que ele leva a cabo na história: produz-se sob certas formas determinadas, e essas formas são os povos históricos. Cada um desses povos exprime uma etapa, designa uma época da história universal. Mais profundamente: esses povos encarnam os princípios que o Espírito encontrou em si e que deve realizar no mundo. Existe, pois, entre eles uma conexão necessária que não exprime se não a natureza mesma do Espírito. A história universal é a manifestação do processo divino absoluto do Espírito nas suas mais elevadas formas: marcha gradual pela qual ele alcança a sua própria verdade e toma consciência de si. Os povos históricos, as características determinadas da sua ética colectiva, da sua constituição, da sua arte, da sua religião, da sua ciência, constituem as figurações desta marcha gradual.»
E estava eu a encontrar consolo nestas palavras de Hegel, escritas em A Razão na História, quando o poeta Borges me saltou ao caminho no meio dos escombros da periferia parisiense e filosofou do alto da sua cegueira: «A metafísica é um ramo da literatura fantástica». Porra!
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