Raul Hilberg, in Shoah, de Claude Lanzmann
Falha imperdoável minha, só hoje fiquei a saber que Raul Hilberg tinha morrido. Autor desse estudo monumental sobre o Holocausto, The Destruction of the European Jews, obrigatório para quem queira tentar perceber a tragédia que se abateu sobre a Europa há cerca de 60 anos, o historiador faleceu no passado dia 4 nos EUA. Foi há poucos anos que comprei o seu livro, em Bruxelas, numa versão francesa actualizada. Com um rigor de copista e uma obsessão pelos factos que lhe valeram muitas críticas, inclusive da própria comunidade judaica (críticas que subiram de tom quando veio a público defender Norman Finkelstein, o autor de A Indústria do Holocausto), Hilberg descreve e interpreta, num livro de mais de mil páginas, a máquina burocrática nazi que permitiu cumprir a mortandade. Texto de referência, vale certamente mais do que todos os discursos que Elie Wiesel possa proferir sobre o tema. E quando tanta gente entre nós parece sentir-se atraída pela judaísmo ‑ porventura levando demasiado a sério o estatuto de «Povo Eleito» ‑, talvez a leitura de Hilberg ajudasse a clarificar as coisas. E as coisas são isto: J’ai fait un rêve, Seigneur, que j’ai trouvé, à l’instant où je le vivais, merveilleux: je n’étais plus juif. Edmond Jabès, que era judeu, saberia do que falava.
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