08/07/07

A book a day keeps the doctor away IV


Lá bem dos fundos, retirei um livro muito antigo, que fazia as delícias de uma prima romântica e também as minhas: John, Chauffeur Russo, do produtivo rei do kitsch Max du Veuzit, que li durante umas tardes ensolaradas de Verão. E quem nunca tenha largado uma lágrima com um melodrama meloso, que atire o primeiro calhamaço.

John, Chauffer Russo, Max du Veuzit, Editora Romano Torres

8 comentários:

Anónimo disse...

caramba, max du veuzit fez as delícias adolescentes de várias gerações femininas da minha família! de chorar e de ler por mais...

susana

Ana Cristina Leonardo disse...

Susana, sempre de acordo. Ainda não é desta que iniciamos uma polémica

FerMarPin disse...

Lembro-me do Estoril quando também li o John,chauffeur russo. Havia mais quem andava a lê-lo - até nas esplanadas do Tamariz, protegidas de ponta a ponta por cedros de grande porte. As mesas e as cadeiras eram de verga. Os bolos vinham em pratos de seis, para se tirar um ou dois. Os que sobravam iam para tràs, mas voltavam pouco depois incorporados em novos pratos de seis. Às vezes pedia-se, por exemplo : "Um prato que traga um ou dois folhados" ! Havia sorvete de baunilha ou de chocolate, colocado em taças na ocasião. E havia carapinhada, vasada em copos altos, que se sorvia por uma por uma palhinha. E havia a guerra em Espanha, de que se evitava falar. Havia muito sol e muito vento. Dos altifalantes saia uma música de má qualidade, mas que dava ao ambiente um ar de festa. E ouvia-se pelos altifalantes, repetidamente, o conselho : "Contra as moscas... Flytox ! Ali à frente uma menina de uns vinte anos, sozinha, com o copo de carapinhada sobre a mesa, sentada voltada para o mar, lia o livro e chupava de vez em quando na plhinha.

Ana Cristina Leonardo disse...

É disto que eu gosto nos livros... Pérec não teri dito melhor. Um abraço

Ana Cristina Leonardo disse...

correcção: teria e não teri, claro

FerMarPin disse...

Sou eu que estou cego ou é o seu endereço e-mail que não está no blog ?
Sou um iletrado. Fale-me, se não for muito incómodo, de Pérec. Estou encantado com o título "Meditação a Pastelaria". Saiu da sua cabeça ? Ah ! Recomendo-lhe as crónicas do taxista de Porto Alegre (Rio Grande do Sul):
http://www.taxitramas.blogger.com.br
Diga-me quem é Pérec... Sim ?
fmarquespinheiro@gmail.com

FerMarPin disse...

Digo, "Meditação na Pastelaria".
Ai os anos, ai os anos...
FMP

Ana Cristina Leonardo disse...

«Meditação na Pastelaria» é o título de um poema do Alexandre O'Neill. Cá vai, na totalidade:

Por favor, Madame, tire as patas,
Por favor, as patas do seu cão
De cima da mesa, que a gerência
Agradece.

Nunca se sabe quando começa a insolência!
Que tempo este, meu Deus, uma senhora
Está sempre em perigo e o perigo
Em cada rua, em cada olhar,
Em cada sorriso ou gesto
De boa-educação!

A inspecção irónica das pernas,
Eis o que os homens sabem oferecer-nos,
Inspecção demorada e ascendente,
Acompanhada de assobios
E de sorrisos que se abrem e se fecham
Procurando uma fresta, uma fraqueza
Qualquer da nossa parte...

Mas uma senhora é uma senhora.
Só vê a malícia quem a tem.
Uma senhora passa
E ladrar é o seu dever – se tanto for preciso!

O Georges Pérec (1936-1982) é um escritor judeu francês divertido, louco e experimentalista que escreveu, entre outras coisas, um romance «La Disparation», em que nunca utilizou a letra E, a mais usada no lexico francês, coisa de que inicialmente os leitores não se deram conta. Tem também um texto lindíssimo (de que me lembrei a propósito do seu post) chamado «Je me souviens», que é um comovente e também divertido hino à memória e às memórias.

Irei espreitar os sites que me indicou. Um abraço