MEDITAÇÃO DE SEXTA: «SORTUDO FOI HOMERO!»
« (...) se não temos polémicas dignas desse nome, agricultura, pouca, e se a verve de Cesariny se foi junto com o último cigarro que fumou, temos a aviação! Temos a aviação porque temos a TAP e porque temos a possibilidade de aceder ao site AeroParticipa no qual existe “um mapa, interactivo, onde as pessoas vão lá pôr o aviãozinho [no local que considerem ser adequado para o novo aeroporto].” (Rosário Partidário, coordenadora da comissão técnica, a este jornal).
Suíça, uma democracia directa?! Helvéticos, vão buscar!
Os “aviõezinhos” são uma ternura, é um facto, mas distraíram-me e fiquei sem espaço para dizer ao que vinha. E ao que vinha era isto: a cancel culture, somada à obsessão pelas biografias, ainda nos vai enlouquecer. Chegada a vez de Picasso, além de monstro misógino, já vai de sociopata e de vampiro para cima (cito The Guardian). Claro, há os que, sem o absolverem dos epítetos, nos pedem para distinguir a obra do homem. São os puritanos queridos, como faz prova esta tirada de um artigo de 8 de Abril publicado no Economist, autorizando-nos a gostar da pintura do espanhol: “A forma como consumimos arte não faz de nós pessoas más ou boas”. Que bom saber!
Resumindo: sorte teve Homero que ainda hoje andam para descobrir quem foi.»
2 comentários:
Sou um gostador de crónicas de jornal. Apanhei as suas, mais as do Manuel S. Fonseca, no «Expresso», e eram essas crónicas que me levavam a gastar dinheiro no pasquim. Foram ambos saneados. As prosas eram brilhantes de mais e aquela gente não gosta nada disso.
Leitor do «Público» desde o 1º número, fui-me deixando disso desde que o jornal, aos poucos, passou a ser vazadouro direitista. Hoje apenas, às sextas-feiras, gasto dinheiro com o jornal – lembranças do «Leituras», do «Mil Folhas», agora é «Ipsilon», com nova coordenação, que ainda não consegui ver bem.
Tudo isto para lhe dizer que, certamente, já pensou no assunto, mas vai sendo tempo de publicar as suas crónicas em livro. Claro que as crónicas têm aquele problema de, algumas, se tornarem datadas. Mas crónica é sempre crónica, ou «saudade da literatura», como determinou o Manuel António Pina, ou «uma espécie de roteiro, um diário de bordo na constante, mas custosa, procura dos outros, neste difícil ofício de viver», para lembrar o Eduardo Guerra Carneiro.
Vou guardando algumas das suas crónicas, mas eu gosto é de as ter em livro.
A inteligência é sempre um prazer e é isso que as suas crónicas são.
Mário Sérgio, muito obrigada! Falta editor :))
Enviar um comentário