27/01/23

MEDITAÇÃO DE SEXTA: «E FALAR A SÉRIO, PODE-SE?»

«Comecemos então, como convém, pelo básico. Um actor é um fingidor. Métodos de aquecimento à parte, ficará para sempre gravado nos anais da arte o comentário que Sir Laurence Olivier terá dirigido a Dustin Hoffman quando ambos contracenavam no filme de 1976 do inglês John Schlesinger, O Homem da Maratona.

Hoffman acabara de filmar uma cena em que tivera de simular não ter dormido nas anteriores 72 horas. Olivier pergunta-lhe educadamente como correu e o co-protagonista de O Cowboy da Meia-Noite (também realizado por Schlesinger e no qual Hoffman interpretara Ratso, maltrapilho e vigarista aleijado que conseguia convencer-nos de que cheirava mal, apesar do cinema não ter cheiro…) responde-lhe que na realidade não dormira durante três dias, de modo a transmitir verosimilhança à personagem. Do alto da sua experiência (shakespeariana), Olivier sugere-lhe com delicadeza: “My dear boy, porque é que não tenta apenas representar?”. (...)

1 comentário:

Miguel disse...

Retiro-me do mundo. Passo a frequentar o Brecht e os Straub apenas. Abro excepção à educação do meu filho e vemos as fitas do Indiana Jones, uns filmes que não se levam a sério (mas dez minutos do Lincoln do Spielberg deixaram-me os sentidos tão destrocados com a cacofonia dos eixos dos planos que desliguei), os Chaplins, os Buster Keaton, mais uns westerns dos bons, star treks vintage e quejandos. Fosga-se. Tu e o Zeca é que têm razão. ;-)

Eu quero ir para o monte
Eu quero ir para o monte
Onde não veja ninguém
Que no monte é que estou bem