02/12/22

MEDITAÇÃO DE SEXTA: «E A MELANCOLIA TOMOU CONTA DA CRONISTA»

«... Embora não existam livrarias seja qual for o ponto cardeal para onde me vire, vou mantendo contacto com os livros. Confesso que a maioria me deixa indiferente. E sim, não são poucas as vezes que sinto pena das árvores.

O sentimentalismo, dissimulado por uma carreira literária – seja isso o que for –, ou visivelmente primário – ambos abertamente mercantis – convoca Baudelaire que, a propósito do processo movido a Les Fleurs du mal, corria o ano de 1857 – há quanto tempo! – concluía que só se devem escrever livros virtuosos e com finais felizes.

E perdoar-me-á o leitor desta crónica a falta de actualidade da mesma. Quem diz actualidade, diz foco, palavra ainda assim mais aceitável do que “focalização”.

Claro que temas não faltam. O Qatar continua na ordem do dia. Têm sucedido revoltas na China, com os chineses a fartarem-se – apesar da sua renomada e milenar paciência – da política de Covid Zero, fora o resto. António Lobo Antunes publicou recentemente um novo romance (ainda não li). Evidentemente, há o tema intemporal do Acordo Ortográfico que veio esfrangalhar de tal maneira a língua que o português de Portugal corre o sério risco de se vir a transformar numa versão abastardada – e sem graça – do português do Brasil.

Se eu tivesse um décimo do talento de Eça de Queirós, já teria inventado, ou reinventado, um bei de Tunes. Afinal, não há cronista que um dia, pela manhã, não sonhe em ouvir bater-lhe à porta o bei de Tunes. (...)» 

1 comentário:

Anónimo disse...

Haverá Les fleurs du bien? Então, também pode haver morsalização, em vez de focalização.