30/09/22

MEDITAÇÃO DE SEXTA: «E LA NAVE VA»

«... In illo tempore algum homem barbudo e mal lavado se apercebeu de que as cabeleiras e o colo femininos lhe excitavam os sentidos (ou isso ou os cabelos longos das mulheres favoreciam a reprodução de piolhos). Entretanto, o mesmo homem, lidando a custo com o seu entusiasmo indecoroso e porventura pretendendo vingar Sansão do corte de cabelo ordenado traiçoeiramente por Dalila, entra em negação e mergulha estoicamente nos livros. Cogita. Lucubra. Teoriza. Alcança a luz do dogma como um budista o satori: às mulheres, e para seu bem e protecção, é devido que se cubram para não perturbarem os homens. Tudo isto, claro, antes de ter sido inventada a mini-saia, o shampoo quitoso ou da actriz Jean Seberg ter lançado a moda dos cabelos curtíssimos.

Séculos passados, alguém com obrigação de saber que já não vivemos nas cavernas e que o acasalamento humano requer uma sofisticação que não se esgota na mudança das estações apesar do que diz a letra do Let’s do it de Cole Porter – que, lá está, não é para ser interpretada à letra – reedita o preceito e impõe-no sob a forma de lei à totalidade das mulheres, incluindo as secularizadas. Os mais radicais – lembrando-nos que pior é sempre possível – ultrapassam a obrigação do uso do hijab: mulher é de niqab ou burka, ou seja, cobertas da cabeça aos pés, respectivamente com olhos e sem olhos à mostra. (...)»

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