11/12/13

O Meu Reino Não É Deste Mundo

Não interessará nada, mas mudei de bairro. “Vai aonde te leva o coração” escreveu a italiana Susanna Tamaro. Nunca li. No meu caso foi mais: “vai aonde te leva a crise”. A crise levou-me a um simpático bairro. 
Não me queixo. Há quem viva debaixo da ponte, diria a Isabel Jonet que tem estado calada. Se o outro bairro era agitado, este é calmo. Se no outro havia jovens em barda, neste dominam os velhos (eu própria devo estar a ficar velha, tal e qual o António Lobo Antunes).
Gosto do ambiente. Calcorreio a calçada (portuguesa, por enquanto) e perco-me em percursos elípticos que me afastam cada vez mais de casa. O desenho das ruas nada tem de cartesiano. Em vez de um centro, um traçado curvilíneo que persigo aleatoriamente (no espaço-tempo curvo não há rectas nem esquinas pontiagudas...). 
Aproveito as compras e os passeios com a cadela para o descobrir. O louco da travessa de cima que gosta de cães. Opequeno lugar/café vazio onde nunca entrei porque o homem atrás do balcão tem carranca de fascista, que ainda os há (e confirmam-me ojeito para retratista: é ruim como as cobras!). A drogaria que mistura tintas, vassouras, detergentes, louça antiga e um caixote de limões. A loja de candeeiros a que chamam hospital dos ditos. A padaria do mercado onde o cheiro do (bom) café vence os eflúvios do peixe. A serraçãoimprovisada que também vende torneiras e outros encanamentos domésticos. A florista despretensiosa que sabe os nomes das plantas em latim (ou similar). A pastelaria que cheira a bolos de arroz. A loja de velharias. De livros em 2ª mão
Muita coisa fechou. Está a fechar. Às compras, eu e os velhos. Para cima e para baixo, ziguezagueando copernicamente ao ritmo do sol que bate nos passeios.

5 comentários:

Anónimo disse...

Eu li e na altura fez-me bem...
Vai até onde te leva a crise não gosto, nada!
(maria, não vai com as outras)

João Lisboa disse...

Leopardo, isso pede um jantar (presumo que não estejas a falar do último sítio onde jantámos)...

josé luís disse...

nem o teu mundo é deste reino, claro.

alexandra g. disse...

Isto só visto. O Fallorca e eu, tomem lá música, enquanto tu e o Lisboa vão jantar.

Eu vou é juntar-me àquela revolucionária das brigadas alimentares, como é mesmo o nome dela?

:))

fallorca disse...

Linda menina que postou a crónica toda:)
Mermão, considera-te convidado para a próxima massada de dourada à chegada dos barcos de Armação, feita pela Nico (A Leoparda que te conte, que isto não é só enfardar no João em Estômbar; topas?)