19/10/12

Manuel António Pina

A poesia vai acabar, os poetas
vão ser colocados em lugares mais úteis.
Por exemplo, observadores de pássaros
(enquanto os pássaros não acabarem).
Esta certeza tive-a hoje ao
entrar numa repartição pública.
Um senhor míope atendia devagar
ao balcão; eu perguntei:
"Que fez algum poeta por este senhor?"
E a pergunta afligiu-me tanto
por dentro e por fora da cabeça que
tive que voltar a ler
toda a poesia desde o princípio do mundo.
Uma pergunta numa cabeça.
– Como uma coroa de espinhos:
estão todos a ver onde o autor quer chegar? –

3 comentários:

luis reis disse...

Mais pobres, muito mais pobres,não há palavras, só raiva...





ps.Não quiseram um poeta na presidencia,e, no lugar dele, votaram num manequim do chiado, agora olha, bando de carneiros...

alexandra g. disse...

Acabo de ler a sua coluna no Actual deste fim-de-semana. Há muito tempo que não lia nada sobre uma pessoa e, simultaneamente, tantas pessoas. Li também o do António Guerreiro, mas já não havia nada a fazer, de tão tocante que foi lê-la.

fallorca disse...

Leoparda, mostra sff