A primeira edição portuguesa de A Caixa Negra data de 1990 e, entretanto, muitos outros títulos de Amos Oz foram traduzidos. Juntamente com David Grossman é, decerto, o escritor israelita mais conhecido entre nós.
Militante do movimento “Paz Agora”, que pugna pelo entendimento entre israelitas e palestinianos, isso não impediria Amos Oz de acusar de terrível cegueira moral José Saramago quando este comparou os territórios ocupados a Auschwitz.
De moral e política fala A Caixa Negra. E ainda de religião, cinismo, rancor e misericórdia. Estruturado sob forma epistolar, o romance gira em torno de um núcleo de personagens bem distintos que vão criando entre si uma teia de relações complexas sob a qual se desenham, como em caleidoscópio, os nexos sociopolíticos de uma sociedade em mutação.
Do sonho sionista inicial, encarnado na figura do pai de Alec, à criação de colunatos encetada por Sommo, judeu sefardita que, pelo dinheiro, consegue vingar social e politicamente, é também da ascensão da direita religiosa e expansionista que trata A Caixa Negra.
Amos Oz fá-lo, contudo, sem nunca ceder à tentação ideológica.
Tudo começa quando Ilana, ex-mulher de Alec, reputado intelectual de origem ashkenazi a viver no estrangeiro e herdeiro de considerável fortuna, escreve ao ex-marido pedindo-lhe ajuda para encontrar o filho de ambos, nunca reconhecido por Alec como sendo seu.
Ilana, agora casada com Sommo, homem crente de origens humildes, vai, através desse pedido de socorro, abrir uma verdadeira caixa negra, a qual, por sua vez, desencadeará, uma série de acontecimentos inesperados, simultaneamente salvíficos e catastróficos, contaminados, sempre, pela ironia da História.
A ler (ou reler).
A Caixa Negra, Amos Oz, D. Quixote, 2012, trad. de Miguel Serras Pereira
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5 comentários:
Vi-o ontem na livraria e ia para comprar, mas depois lembrei-me que ainda agora gastei 12000 euros em livros com o programa de governo e achei que estava a abusar. Fica para o próximo mês.
Maria, se andar por Lx, terei o maior gosto em lhe emprestar o livro do Amos Oz. E falo a sério.
Quanto ao outro, tb. paguei mas até agora ninguém me fez chegar o exemplar a que teria direito.
Abraço
Ana, nem sei que lhe diga. Há tantos anos que ninguém se propõe emprestar-me um livro...
Agradeço a genuina oferta mas vou comprar. Continuo com a estúpida mania de meter cá em casa os meus autores e livros favoritos.
Obrigada
Maria, eu percebo-a. Mas fique a saber que em caso de absoluta necessidade, eu pertenço ao clube das pessoas que emprestam livros. Quando mos devolvem, fico muito agradecida.
:-)
Também pertenço a esse clube, mas geralmente nunca são devolvidos, pelo que não chego a agradecer.
Agredeço-lhe agora a si.
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