29/01/12

"Uns jantam, outros são jantados"

A minha professora de História do antigo 4º ano (hoje, 8º) chamava-se Helena Balsa.
Mais tarde jornalista da RTP, desaparecida prematuramente em 2006, chegou-nos como uma lufada de ar fresco. A aberta durou pouco: Helena cedo seria catalogada pelas luminárias rançosas que dominavam, então, o Liceu de Cascais (e o país, cela va de soi…) como persona non grata.
Motivos? As suas ultra-hiper-justas calças à boca-de-sino e o recurso ao materialismo histórico como grelha pedagógica.
Conceitos como “infra” e “superestrutura”, com a infraestrutura a determinar em “última instância” a super, lançavam uma nova luz sobre, por exemplo, a crise de 1383/85 que deixava de se resumir a uma confusa novela recheada de casamentos e traições, na qual, to make a long story short, o Conde Andeiro e a Leonor Teles representavam os maus da fita.
Lembro-me muitas vezes dessas aulas.
No outro dia, ao ver citado um excerto do livro de Álvaro Santos Pereira, O Medo do Insucesso Nacional, onde o actual ministro explicava o declínio da “indústria de produção de padres” (bracarense) pelos elevados “custos de produção de novos sacerdotes”, senti-me teletransportada a esses tempos – sombrios e ao mesmo tempo felizes, parafraseando Kertész em Sem Destino – nos quais a economia era a explicação de tudo, pelo menos em “última instância” (embora definir “última instância” fosse e, creio, continua a ser, o cargo dos trabalhos).
Ainda não refeita do retorno ao materialismo dialéctico via Álvaro, ouço Cavaco Silva ”indignar-se” publicamente. E eis que, irmanados, eu e a Presidência, pela crise, é Marx quem se desmorona de novo. Pois se até Cavaco Silva se queixa, que fazer da “luta de classes” como motor da História?
Acho que a Esquerda devia reflectir sobre isto (de preferência sem abdicar do c).

2 comentários:

sem-se-ver disse...

1º,
gostava mt da balsa; bonita, bonita voz, bonita integridade.

2º,
este país sp escorraçou os melhores.

fallorca disse...

No teu melhor, leoparda ;)