08/01/12

Material world

Eis senão quando, entrado 2012, o país fica mais pobre.
As acções detidas pela família Soares dos Santos no grupo Jerónimo Martins passam a ser controladas a partir da Holanda: “No passado dia 30 de Dezembro de 2011, a Sociedade Francisco Manuel dos Santos SGPS vendeu à Sociedade Francisco Manuel dos Santos BV”, a participação de 56% que detinha no grupo.
Foram-se. Piraram-se. Desandaram. Deram corda aos sapatos. Substituíram-nos por tamancos.
Já nos tinham avisado que o país ia ficar mais pobre antes de ficar mais rico. O desígnio cumpriu-se. Pelo menos a metade.
Além disso, também fôramos convidados a sair da “zona de conforto”. A dar à sola. A ir embora. A pregar para outra freguesia. Pastar longe. Dar uma curva. Vai ver se estou lá fora! Eles foram.
Foram e não nos levaram! Isso é que dói. Eles lá e nós aqui.
Nós aqui sem podermos vender a Sociedade Ana Cristina Leonardo SGPS à Sociedade Ana Cristina Leonardo BV. Não é justo!
Nós obrigados a mostrar o nosso amor a Portugal, comprando couve-galega, que já não há, e atum em lata marca branca, e eles a deliciarem-se com erwtensoep (sopa de ervilhas), hollandse nieuwe (arenque fresco e cru), appelgebak met slagroom (tarte de maçã com chantili) e stroopwafel (bolachas tipo waffle).
Mas Deus, que é grande, também não lhes permite mais nada. Gastronomia holandesa? Deixem-me rir. Batatas, batatas e mais batatas! Nós, ao menos, sabemo-las fazer a murro, apesar dos brandos costumes.
Nota pictórica-cultural: se algum dos leitores deste post conhece o quadro de van Gogh, “De Aardappeleters” ("os comedores de batatas") perceberá melhor do que falo: até um inglês passa fome na Holanda!
Voltando à vaca fria (termo apropriado quando está em causa um país onde o referido animal chega a um milhão e meio de cabeças…). Digam-me: tirando a desgraçada da Anne Frank, a Red Zone, os Coffee Shop (cujo acesso, segundo a nova lei, passou a estar reservado aos locais) e as enfadonhas tulipas, lembram-se de mais alguma razão para alguém querer emigrar para a Holanda?

12 comentários:

m.a.g. disse...

Vermeer... Vondelpark... Focus (Hocus Pocus) assim de repente.

Ah! "Voltando à vaca fria (termo apropriado quando está em causa um país onde o referido animal chega a um milhão e meio de cabeças…)" um pouco mais que nos Azores :)

Manuel Vilarinho Pires disse...

Ana,
A meio do texto fui pensando: mas a comida holandesa é uma merda! Mas logo de seguida vi que o comentário não acrescentava nada ao texto, que já o dizia noutros termos.
Mas a Holanda tem os seus atractivos: os Rolling Stones já lá estão há 30 anos...

henedina disse...

Vermeer. Bicicletas. Homens que em 1996 já estavam no séc XXI antes da crise.

João Lisboa disse...

"lembram-se de mais alguma razão para alguém querer emigrar para a Holanda?"

Com essa é que tu não me levas, Leopardo. Sempre que posso estou lá caído. E, se não dependesse de uma série de coisas, mudava-me já amanhã para lá de armas e bagagens. Coisa que, aliás, já me passou pela cabeça várias vezes.

E não é só Amsterdão.

Anónimo disse...

As outras vacas .

Anónimo disse...

"Brocas",muiiitas "brocas",ui que cheirinho vai na Dam....
Qual a estação de comboios de uma capital Europeia, onde cheira a merda de vaca?São uns porreiros.
Maravilha.Como saber onde está a bicles,no meio daquela confusão, depois de....comida é uma merda,mas,tambem não se pode ter tudo,né?Batatas?Tá bem,mas com Rubens,e BROCAS.
Bom texto,apesar de...

Ana Cristina Leonardo disse...

caros comentaristas, o meu texto é, no essencial, uma mera confissão do seguinte: quem me dera a mim poder ir para a holanda, apesar das batatas...
:-)

henedina disse...

Falta de respeito em Portugal pelos Portugueses.

henedina disse...

:) antes do seu comentário, claro

F disse...

João Lisboa, subscrevo. Só o sol é que me faria falta.

F disse...

http://static.publico.pt/cincofamilias/Casos/desde-que-vivo-na-holanda-terminou-o-pesadelo-do-regresso-a-escola_1514456

José Gonçalves Cravinho disse...

Pois eu aproveitei a oportunidade de emigrar que se me deparou em 1964,para a Holanda,embora tivesse preferido ir para França porque falava francês.Mas vim então com um grupo de portugueses,para trabalhar numa Fábrica.E hoje já velhote (87anos)digo que fui e sou melhor tratado aqui do que na Pátria-Mãe p'ra mim madrasta e aqui ficarei até morrer.