08/10/11

Mentes abertas, olariras

Em 1996, Richard Dawkins, famoso pelo seu combate a favor do ateísmo, diria durante a palestra que proferiu a convite do “Richard Dimbleby Lecture”: “By all means let's be open-minded, but not so open-minded that our brains drop out”.
A exclamação relacionava-se com o tema da conferência (grosseiramente: contra o charlatanismo, marchar, marchar…); alargou, entretanto, o seu âmbito, adoptada como divisa por todos os que insistem em distinguir O Tratado Sobre a Tolerância de Voltaire da frase de autor anónimo “Tu tens a tua opinião, eu tenho a minha e acabou-se a conversa”.
Dito isto, e embora correndo o risco dos “miolos me saltarem”, voto pela tolerância.
No livro citado, Voltaire escreveu, referindo-se à violência com base religiosa: “O direito de intolerância é, pois, absurdo e bárbaro: é o direito dos tigres, e é bem horrível: porque os tigres matam para comer e nós andámos a exterminar-nos por causa de parágrafos”.
Aparentemente, estamos mais tolerantes e até a Arábia Saudita acaba de reconhecer o direito de voto às mulheres (desde, claro, que os respectivos maridos, pais ou irmãos assim o entendam…).
Sublinho, porém, o aparentemente porque, muitas vezes (desconfio) é a pressão social e não a convicção pessoal que nos leva a contemporizar com certos valores aceites, sendo raros aqueles que, de facto, comungam da abertura de espírito da mulher “que, aquando do julgamento de Oscar Wilde, disse que não se importava com o que faziam, desde que não o fizessem na rua e não assustassem os cavalos” (Brendan Behan, Nova Iorque).
A minha desconfiança confirma-se. A padaria da minha rua fica paredes meias com uma série de after hours. Abre agora ao domingo e serve uma multidão de noctívagos que, de óculos escuros, lá vai aviar carcaças por volta do meio-dia.
No último domingo, enquanto pagava, comentei: “Tem pouco movimento. Será da crise?”. A simpática padeira segredou-me, cúmplice e agradada: “Não. É que dantes eram pretos. Agora são gays. Está muito mais calmo!”.

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