Podia mentir. Esquecer a sordidez de bordel em que se tornou a política e ater-me às fisionomias. À superiormente sofrida de Francisco Assis, homem que parece carregar (sempre) o peso do mundo ou, pelo menos, do PS; à vermelhusca de Catroga, senhor de cabelos alvíssimos que vem ultimamente perorando em português vernáculo sobre feitos propagandísticos.
Teorizar, quiçá, sobre o significado absconditus das diferenças nasais entre Louça e Sócrates; dois narizes de similar proeminência cujas pirâmides são absolutamente distintas (a importância dos narizes na História ficou provada naquela obra de Albert Uderzo e René Goscinny, na qual César, o imperador romano e não o açoriano, confrontado com a fúria de Cleópatra diz, de si para si, É bela, mas a mostarda sobe-lhe facilmente ao nariz; convicção idêntica à do filósofo Pascal que, também ele, dissertou com elegância sobre o mesmo: le nez de Cléopâtre: s'il eût été plus court, toute la face de la terre aurait changé).
Em minha defesa (ou seja, do tema desta crónica) – que muitos entenderão fútil dada a situação do país – invoco Wilde: Só as pessoas superficiais não julgam pelas aparências. E usando o irlandês como âncora, chego ao ponto: os políticos portugueses são, maioritariamente, muito feios. Este facto pode parecer despiciendo mas não é. Já que entrámos em recessão, já que nos vamos ver gregos, ao menos que nos ofertassem algum consolo estético.
A estética anda subavaliada. Será por isso, por ex., que a submersão de parte da lindíssima Linha do Tua não suscitou mais do que uns quantos suspiros nostálgicos, rendidos os lesados à frieza (vil) das compensações.
Num país decente, ou até na Itália de Berlusconi, aquilo era capaz de fazer vir charters carregadinhos de chineses. Por cá, uma velharia a descartar em nome da modernidade e dos negócios. Mas desvio-me do assunto que, em verdade e resumindo, era isto: eu prefiro homens bonitos (não me interpretam mal; o meu estilo é o Gregory Peck).
23/05/11
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7 comentários:
Quem sou eu para duvidar.
Aqui vai uma achega:
http://latimesblogs.latimes.com/.a/6a00d8341c630a53ef013480b490c2970c-800wi
De acordo: eu também prefiro o Peck aos PECs.
Adenda (agora faz-me confusão escrever "PS"): como se pode constatar pela efígie que surge nas moedas da época, parece que Cleópatra não era exactamente bela. Mas, claro, isso não impede que se prepare mais um filme sobre a vida dela, com Angelina Jolie no papel principal - quando a lenda se transforma em facto, publique-se a lenda (de O Homem que Matou Liberty Valance, com esse outro rapaz alto, magro e sereno chamado James Stewart).
A sua reflexão tem muita graça.
Muit'obrigado pelo alento
mas
desgraçadamente, também a mim nem a mais recôndita vereadora, procuradora, secretária, não sei se de Estado ou assessora m'ajudaria - são todas muito políticas, de facto!
Não sei se na AR...
as muito feias que me perdoem
mas beleza é fundamental. É preciso
que haja qualquer coisa de flor em tudo isso
qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture...
VINICIUS DE MORAES
:)
Gostei muito da sua crónica e concordo absolutamente com a constatação de que a beleza traz vantagens; tadavia, neste "bordel político", nem David nem Adonis, ele mesmo,escapariam à conspurcação, à nódoa do nauseabundo verbo em uso!
Do que eu me livrei, fiufiu...
Cara Ana Cristina,
Acabou de me ocorrer uma ideia que me parece ir de encontro às nossas questões. Que me diz à formação do PHI?
Quer ver?
http://umjeitomanso.blogspot.com/2011/05/phi-um-partido-ganhador-receita-para.html
JM
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