14/10/10

A book a day keeps the doctor away: "A Viagem dos Inocentes", Mark Twain

Faço minhas as palavras citadas na contracapa de A Viagem dos Inocentes: “Quando penso como fui enganado pelos livros de viagens sobre o Oriente, só me apetece comer um turista ao pequeno-almoço”.
Atendendo a que a frase transcrita data de 1869, ou seja, de há 141 anos, a conclusão impõe-se e não é de índole optimista: apesar da invenção do Allgarve, não parece ter havido melhoras.
Falamos do autor de As Aventuras de Tom Sawyer, logo, não falamos de um qualquer. Nem sequer de uma viagem qualquer.
Do que se trata aqui é da narrativa do périplo pela Europa e pela Terra Santa de um grupo de americanos que parte para o Velho Mundo como quem parte para um piquenique. No caso, a bordo do USS Quaker City que zarpou de Nova Iorque a 8 de Junho de 1867 para regressar apenas seis meses depois.
Entre os passageiros, Mark Twain, pseudónimo de Samuel Langhorne Clemens, aquele a quem outro gigante, William Faulkner, classificaria como o “pai da literatura americana”. Paternidade à parte, Clemens é obrigatório.
O livro, a sua real estreia literária (descontados uns contos anteriores), regista, à maneira de um diário de bordo, as aventuras e desventuras do grupo de inocentes peregrinos que, desta vez, rumam em sentido contrário (no original, “The Innocents Abroad, or The New Pilgrims' Progress”, numa referência explícita aos primeiros europeus a desembarcarem na América).
O humor de Twain não perdoa. O Velho Mundo é passado a pente fino (e disso são exemplo as notas sobre os Açores), mas os excursionistas também não escapam: “Estamos acampados perto de Temnin-el-Foka, um nome que os rapazes simplificaram consideravelmente para facilitar a pronúncia. Chamam-lhe Jacksonville. Soa um pouco estranho, aqui no vale do Líbano, mas tem a vantagem de ser mais fácil de decorar (…)”.
E que melhor forma de assinalar os 100 anos da morte de Mark Twain do que a publicação (ainda por cima pela mão da editora com os livros mais bonitos do país...) desta deliciosa viagem inédita em Portugal?

A Viagem dos Inocentes, Mark Twain, Tinta-da-China, 2010, trad. Margarida Vale de Gato

2 comentários:

jaa disse...

Já comprei mas ainda não li. Concordo que os livros da Tinta-da-China são os mais bonitos, seguidos a curta distância pelos da Minotauro e, na capa mole, pelos da Ahab. Depois vêm a Palimpsesto e a Livros de Areia. E também não desgosto dos da Sextante. A Cavalo de Ferro costumava ter livros atraentes mas decaiu muito nos últimos anos.

fallorca disse...

E há umas «edições de bolso» (para escrever) deliciosas. Não estava lá o familiar do nobelizado Mário Bulhosa, fico a aguardar o que me diz um adivinho.