26/04/10

Como os temas fracturantes me aborrecem um bocadinho e de momento nada tenho a dizer roubei este post à Morgada de V. em troca de um éclair

Portugueses e portuguesas, cidadãos e cidadãs comunitárias (os)estrangeiros e estrangeiras de países terceiros, apátridas & apátridos, e todos & todas quantas/os lêem este/a magnífico/a post(a)

Por razões que se prendem com o meu passado de resistente anti-guterrista, embirro com a mania de feminizar os plurais, tanto com a escola que defende o desdobramento em feminino e masculino, como com a que troca os o’s pelos @’s. Isto é uma embirração mansa que não justifica uma tomada de posição do Paulo Jorge Vieira, e só falo no assunto porque ontem recebi um email da minha própria irmã a convidar-me, a mim e a outros & outras, para uma cena vagamente alternativa na qual “todos e todas são bem-vindos(as)”, não fossem as todas achar que era uma cena só para todos ou os todos que isto é tudo deles. Passado o choque inicial (a minha própria irmã, educada nas mesmas escolas que eu!), estivemos a trocar ideias sobre o assunto no chat do Gmail. Ela diz que a linguagem é tributária da sociedade patriarcal em que vivemos, e que “enquanto não se encontrar outra solução”, acha “ofensivo” não precisar o género feminino sempre que o plural seja opressivamente masculino. Em suma, há que chamar os bois pelos nomes (e as vacas, acrescento eu). Aqui a comunicação foi cortada, o que me impediu de desenvolver esta linha argumentativa, mas soube pela minha irmã mais nova (que não andou nas mesmas escolas que eu mas herdou o meu extraordinário bom-senso, e também se riu do disparate) que o incidente abalou a sororidade que me une à minha outra irmã. Não sei como vou dizer isto aos meus pais, mas acho que a irmã que frequentou as mesmas escolas que eu, e que até há pouco tempo se regia pelas mesmas regras gramaticais, foi raptada por extraterrestres (ou extraterrestras). No entretanto, enviei à pessoa (homem, mulher ou transgénero) que usurpou o email dela (e provavelmente o Facebook também) esta crónica já antiga do Arturo Pérez-Reverte – que tem, mutatis mutandis, ideias com interesse, mas não parece ter ajudado muito os/as coisos/as.

Sem comentários: