05/03/10

Eu cá não seria capaz de guilhotinar nem O Segredo mas reconheço que pertencerei a uma espécie em vias de extinção

Foi o bardo de serviço a Moçambique, com pompa e circunstância e à boleia de Sócrates (também presente na cerimónia), entregar o prémio Leya.
Enquanto isso, o grupo comandado por Miguel Paes do Amaral, empresário cultural e, ao que me dizem, conde nas horas vagas que não faço ideia quantas obras leu na vida, vai-se desfazendo de uns livritos que lhe enchem o armazém (de Alegre, que está triste, segundo o próprio nada foi guilhotinado).
A este propósito, reproduzo na íntegra uma crónica assinada por Manuel António Pina, um homem de quem eu gosto.

«Em 1933, a Alemanha hitleriana promoveu, em dezenas de cidades, a queima pública de livros "não alemães" e de "intelectuais judaicos". A "Bücherverbrennung" (queima de livros) obedeceu ao projecto de "sincronização cultural" de Goebbels visando a "limpeza" da cultura alemã.
Foram assim atirados ao fogo, no meio de multidões ululantes e de braço estendido, obras de, entre outros, Thomas Mann, Walter Benjamin, Brecht, Musil, Heine, Freud, Einstein... Hoje já não se acendem fogueiras, usam-se guilhotinas. Mas o objectivo continua a ser a "limpeza", desta vez comercial, e a "sincronização cultural", agora com os padrões do lucro a qualquer preço, mesmo que seja ao preço da própria cultura. Se não vejam-se os "intelectuais" sacrificados na "Bücherguillotinierung" (guilhotinagem de livros) recentemente organizada pelo Grupo Leya de Miguel Pais do Amaral: Garrett, Fernão Lopes, Eduardo Lourenço, Eugénio de Andrade, Jorge de Sena, Ramos Rosa, Goethe, Holderlin... Ao menos os nazis queimavam livros em nome de uma ideia de cultura, o que sempre é um pouco mais respeitável que fazê-lo por mera ganância.»

1 comentário:

lili disse...

Queimar livros é sempre queimar livros e nunca é respeitável, é como guilhotiná-los.