É um livro pequeno sobriamente ilustrado, cabe no bolso e tem capa vermelha. Chama-se Outubro e debruça-se sobre a revolução bolchevique de 1917.
O autor, Rui Bebiano (RB), professor de História Contemporânea na Faculdade de Letras de Coimbra, mantém um blogue, A Terceira Noite, e foi lá que estes textos, agora compilados e ligeiramente alterados, apareceram pela primeira vez.
Quando comecei a ler Outubro lembrei-me de Arthur Koestler, o homem de O Zero e o Infinito, ex-comunista que desde logo percebeu que a utopia igualitária era, na verdade, uma realidade monstruosa.
Koestler escreveria no 1º volume da sua autobiografia, Arrow in the Blue: 'Nos anos 30, a conversão à fé comunista (...) foi a expressão sincera e espontânea de um optimismo nascido do desespero (...). Deixar-se atrair pela nova fé, penso-o ainda, foi um erro louvável. Estávamos enganados pelas boas razões; e continuo a acreditar que, apenas com algumas excepções (...) aqueles que, desde o início, denegriram a revolução russa o fizeram por motivos menos louváveis do que o nosso erro. Existe um mundo entre o amoroso desencantado e os seres incapazes de amar'.
Entretanto, muito tempo decorreu e muitos cadáveres passaram debaixo das pontes. Como questiona o próprio RB, a quem interessará hoje Outubro ‘fora do universo protegido dos prosélitos mais irredutíveis da revolução proletária?’.
Di-se-á que, desde logo, aos historiadores, mas porventura também, e concordando com RB, a todos os ‘que se não conformam com o mundo tal qual ele é’.
Abordando aspectos vários – do pragmatismo leninista, levado ao paroxismo por Estaline, aos compagnons de route; da invenção do ‘realismo socialista’ ao Gulag – Outubro, reflexão sobre o potencial utópico, dimensão simbólica e crimes reais da revolução soviética, será, sobretudo, na sua versão de pequeno ensaio, uma tentativa honesta de pensar o desencantamento.
Outubro, Rui Bebiano, Angelus Novus, 2009
Outubro, Rui Bebiano, Angelus Novus, 2009
[Imagem: reprodução de um cartaz de Aleksandr Rodschenko]
7 comentários:
Tb já li! Está "fixe" a pequena recensão :)
o livro é bué fixe...
Há milhões de livros escritos sobre Outubro ("that October", como disse alguém) e espero que me perdoe se lhe disser que nada do que diz (e diz que o RB disse antes de si) justifica ler mais este livro sobre Outubro ("bué de fixe" que ele seja).
António Figueira
Há milhões de livros escritos sobre Outubro
... sem dúvida
nada do que diz (e diz que o RB disse antes de si) justifica ler mais este livro sobre Outubro
... permita-me que discorde; um livro que me faz pensar em Arthur Koestler merece de certeza que eu o leia
bué de fixe que ele seja.
... como, no seu caso, não vai ler, nunca saberá
Engana-se: vou já ler, só para pensar em Arthur Koestler (e só espero que o Arthur Koestler não me faça pensar depois em Rui Bebiano, que não há tempo nem dinheiro para tanto pensamento).
António Figueira, (sorriso)
Outro para si, claro (e prometo que não volto a meter-me com bloggers simpáticas).
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