17/01/25

MEDITAÇÃO DE SEXTA: «A maçã de Newton que acabará por nos cair na cabeça»


10/01/25

MEDITAÇÃO DE SEXTA: «Admirável mundo desconhecido»

«É inegável que ter dinheiro traz vantagens. Se Elon Musk não fosse rico, teria Mário Machado, à boleia do caso do britânico Tommy Robinson, pedido ajuda ao dono da Tesla para que intercedesse por ele junto a Donald Trump e lhe conseguisse pelo menos uma carta verde, no caso de não conseguir uma branca?

03/01/25

MEDITAÇÃO DE SEXTA: «O ano de todos os perigos»

«(...) Se por aqui – algures perdidos num cenário ratado ora pelo calor, ora pelo frio e sempre pela desertificação: um “deserto de almas” despojado de jovens e de arquitetura high-tech, sem Antonioni nem críticas ao capitalismo – não se sente o cheiro a napalm pela manhã, isso não significa que não estejamos a par das notícias. Apesar de resguardados dos males maiores do mundo – bem ou mal, as couves e as batatas continuam a crescer nas hortas e as galinhas a pôr ovos (pese embora as investidas das raposas…) –, não seremos poucos no monte a aguardar, tal como em Washington, D.C., Londres, Paris, Moscovo, Pequim ou Kiev, a tomada de posse de Donald Trump a 20 de Janeiro, o Presidente escolhido pelos norte-americanos que nos vem deixando em suspenso a todos.

20/12/24

MEDITAÇÃO DE SEXTA: «E os marcianos, demoram?»

 «O nevoeiro que habitualmente chega apenas ao largo, subiu até à casa e adentrou-a até aos ossos.

13/12/24

MEDITAÇÃO DE SEXTA: «Criptomoedas, armas e bananas»


29/11/24

MEDITAÇÃO DE SEXTA: «Outras guerras: a vitória dos “espetadores”»

 

22/11/24

MEDITAÇÃO DE SEXTA: «Os poetas vão ser colocados em lugares mais úteis»

« (...) Avisto as rosas que abriram rente ao muro que marca a bifurcação do caminho que leva ao largo. Hoje não está lá o pequeno cão preto que guarda a passagem, atento e carrancudo como Caronte, o barqueiro do Hades. Estas são rosas literalmente cor-de-rosa, túrgidas, de pétalas labirínticas e resistentes, e não brancas e frágeis como as rosas que florescem em cachos no mês de Maio junto ao barranco por estes dias cheio de água, uma água argilosa que corre rápida e rumorosa escondendo as margens cobertas de musgo do atalho agora impraticável, os campos à volta forrados de uma erva alta e viçosa que deixa em destaque o laranja – sóis artificiais que ornamentam os campos – das laranjeiras carregadas, todas as outras árvores nuas, com excepção de uma ou outra figueira cujas folhas ásperas se recusam a encarquilhar ou de uma ou outra nespereira de floração amarelada, desgrenhada e sem graça. De resto, a Natureza tem sido generosa em água e trovoadas nocturnas. Os raios que antecedem o estrondear dos céus iluminam o rio e assombram a sonolência dos barcos. Espectáculo que permite perceber a diferença entre o belo e o sublime, dão-se graças por aqui à existência de pára-raios.

15/11/24

MEDITAÇÃO DE SEXTA: «A realidade é muito abusadora»

« (...) Sem querer retirar gravidade ao momento que vivemos – falo, claro, abstractamente, já que por aqui o tema da eleição de Trump não terá tirado o sono a ninguém –, não pude deixar de me lembrar das palavras do poeta egípcio Salah Jahine (1930-1986) incluídas no livro de memórias do marroquino Mohamed Berrada, "Como um Verão que não Voltará: o Cairo, 1955-1996" (Quetzal, 2010):

"Hammad não esquecerá o seu encontro com o poeta Salah Jahine no início dos anos setenta. Tendo vindo ao Cairo procurar elementos para a sua tese, instalara-se numa pensão perto da avenida Kasr al-Nil. Uma noite, quando estava estendido na cama, foi iluminado pelo som de um alaúde acompanhado de uma voz doce e, de tempos a tempos, por comentários e risos; os ocupantes do quarto ao lado haviam organizado uma pequena festa entre amigos. No dia seguinte de manhã, perguntou ao proprietário da pensão quem ocupava o quarto: era o compositor Sayyed Mekkaoui. À tarde, ao sair, cruzou-se com Salah Jahine, cujo rosto lhe era familiar. Cumprimentou-o e apresentou-se; começaram a conversar e, quando Hammad lhe disse que gostaria de o rever com mais tempo, o poeta concordou de boa vontade e combinaram jantar juntos. Hammad, ainda cheio de entusiasmo apesar das decepções, inclinava-se para a revisão radical da experiência da esquerda. Nasser estava morto e tinha deixado um vazio que ninguém sabia como preencher. Hammad, ao abrigo da sua juventude e inexperiência, elaborava críticas e indicava o caminho da esperança; Salah Jahine deixava-o falar, contentando-se em intervir de tempos a tempos para lembrar a sucessão de desmoronamentos e recuos que assinalava a morte do grande sonho. Havia na voz dele uma melancolia indescritível; mesmo quando gracejava, o seu riso breve não conseguia vencer o muro de tristeza que o habitava por inteiro. Depois do jantar, Salah ofereceu-se para acompanhá-lo; a conversa continuou. Hammad falava e Salah escutava pacientemente. Chegados à porta da pensão, este disse-lhe: — Ouça, ostaz Hammad, tudo o que diz é muito bonito, mas, infelizmente, não serve para nada. — E porquê, ostaz Salah? — Porque o povo sempre foi de direita! Hammad lançou um olhar surpreendido ao seu interlocutor; continuava embrulhado na sua tristeza, mas, de repente, desatou a rir. Riu-se com ele e depois separaram-se com um aperto de mão. Foi o seu primeiro e último encontro com Salah Jahine."

01/11/24

MEDITAÇÃO DE SEXTA: «Se houvesse degraus na terra e tivesse anéis o céu eu subiria os degraus e aos anéis me prenderia»

«(...) com quem trocar dois dedos de conversa sobre o pus dos livros quando já se foram Jorge Fallorca (“Decorrido meio século de existência, li e escrevi o suficiente para considerar a escrita – como qualquer outro acto criador – antropófaga até à vileza”, in Longe do Mundo, 2004), Juvenal Garcês (e os nossos diálogos que tanto versavam a genialidade de Ibsen como a mediocridade dos caciques culturais, sem esquecer a superioridade inquestionável das bananas da Madeira), Rui Martiniano, que conheci como Rui “Bancário” para reencontrá-lo no acaso das ruas de Lisboa, tantos anos passados e era ontem, editor da Hiena e tão minoritário como sempre fora, Francisco Brás, o meu vizinho actor motorizado, admirador incondicional de Mário Viegas com quem trabalhou e antagonista encartado do pedantismo, ou toda a outra gente morta ou em silêncio, aqui ou nas cidades, as trincheiras a abarrotar de equívocos e vaidades?

25/10/24

MEDITAÇÃO DE SEXTA: «Sigamos o cherne!»

«Ai que prazer não cumprir um dever, ter uma crónica para escrever e não o fazer! (E com esta já vou na terceira ou quarta frase de abertura…)

11/10/24

MEDITAÇÃO DE SEXTA: «A nossa necessidade de consolo é impossível de satisfazer»

«Se recordarmos a Guerra dos Cem Anos que assolou a Europa durante a Idade Média, concluímos, sem que isso nos sirva de especial consolo, que há guerras que vieram para durar.

04/10/24

MEDITAÇÃO DE SEXTA: «Desafinação outonal»

« (...) Integrado nas comemorações deste ano dedicadas ao nascimento do poeta – dizem que passaram cinco séculos e, pelos festejos, o que seria se não tivessem passado…! –, tal lançamento veio colmatar uma falha de peso. Pois se estávamos até agora impedidos de apreciar o imaginário pictórico que a epopeia camoniana despertara em Valter Hugo Mãe, o que por si só seria de lamentar, muito mais pobres ficaríamos sem a leitura do prefácio assinado pelo prolixo vate (referimo-nos, claro, ao desenhista e não a Luís de Camões, que se limitou quase só a fazer versos).

28/09/24

MEDITAÇÃO DE SEXTA: «Dos frigoríficos às bombas»

«Sonhei que tinha tido início a III Guerra Mundial. Felizmente, ao acordar, nenhum cheiro a napalm o confirmava.

20/09/24

MEDITAÇÃO DE SEXTA: «Volta, Peter Sellers!»

«Como antigamente se dizia: mudámos de paradigma. Para trás, os tempos em que os comunistas comiam criancinhas ao pequeno-almoço e eutanasiavam os velhos com uma injecção atrás da orelha. Chegados os bárbaros que nunca mais chegavam do poema de Kaváfis, temos agora imigrantes de proveniências exóticas que raptam e comem animais de estimação, incluindo cães, gatos e gansos.

(...)

Não se pense, porém, que a regressão se dá só nas fileiras trumpistas. Em hordas mais civilizadas e culturalmente tidas por informadas, o retorno ao passado também está aí, à vista de quem o quiser ver.

06/09/24

MEDITAÇÃO DE SEXTA: «Cronicando»

«(...) Voltando à mexida no gerúndio. Problema menor, se não mesmo inexistente (como reconhece, aliás, o jornalista e escritor brasileiro Sérgio Rodrigues na sua entrevista ao Expresso de 24 de Agosto), inexistente e insuficiente para encobrir a carrada de problemas reais que enfrenta a língua em Portugal.

30/08/24

MEDITAÇÃO DE SEXTA: «Riso Amarelo»

«(...) não se espere da minha parte qualquer contribuição relevante para o debate actual em torno do idadismo – a nova palavra da moda que, aposto, irá ultrapassar um dia a praga do populismo.

23/08/24

MEDITAÇÃO DE SEXTA: «Incertezas de Agosto»

«(...) onde pára o jornalismo?

16/08/24

MEDITAÇÃO DE SEXTA: «Os livros são para se comer»

«(...) A mulher que nunca largará a cor do luto viajou menos do que a mulher de olhos muito azuis. Na realidade, nunca viajou. Com uma história igualmente, se não mesmo mais difícil – mãe espanhola que cruzou o rio em fuga da Guerra Civil e marido contrabandista que cruzaria o rio em sentido contrário enfrentando tanto a Guarda Fiscal como a Guardia Civil – é a prova de que a causalidade é conceito demasiado infecundo, sobretudo quando aplicado ao comportamento humano. Sempre positiva, apesar da vida de trabalho e pobreza, sempre gentil, apesar da dureza que lhe calhou em sorte, contrasta com familiar de sangue e destino comum a quem um simples “Bom dia!” poderá acarretar como resposta: “Bom dia só se for para si!”

09/08/24

MEDITAÇÃO DE SEXTA: «Então e os Bárbaros: Chegam ou não Chegam?»

«(...) A extrema-direita e as redes sociais têm servido de explicação [para a situação no Reino Unido]. Mas eu que sou do tempo dos aplausos e vivas às redes sociais aquando da chamada Primavera Árabe de 2011, pergunto-me que diferenças substanciais no seu uso se deram de ontem para hoje?

05/07/24

MEDITAÇÃO DE SEXTA: «Semana Negra»

« (...) Havia um bar no rés-do-chão do prédio e entre mim e o bar sobrava um piso de escritórios. Durante algum tempo dirigido por um madrileno, tornara-se local de agradável convívio, os bancos altos do balcão a comporem aquele cenário acolhedor dos filmes onde pontifica um barman camarada, confessor de histórias a quem nunca falta paciência. Tudo mudou quando o madrileno se foi embora e deu lugar a locatários portugueses que se tomavam por aficionados espanhóis da arte tauromáquica. Os agrobetos começavam então a ficar na moda. Eu era, portanto, mais nova.

28/06/24

MEDITAÇÃO DE SEXTA: «Altas Temperaturas»

«(...) Quando, no ano já distante de 2014, Matt Taylor, astrofísico britânico e um dos responsáveis pelo sucesso da missão Rosetta, apareceu em público a chorar – reagindo à enxurrada de críticas que milhares de mulheres terráqueas e ofendidas tinham feito chegar às redes sociais –, a pedir desculpa por ter ousado vestir uma camisa de manga curta com desenhos de pin-ups, houve quem se lembrasse imediatamente da Revolução Cultural Chinesa e dos seus métodos de flagelação e humilhação públicas.