22/11/24

MEDITAÇÃO DE SEXTA: «Os poetas vão ser colocados em lugares mais úteis»

« (...) Avisto as rosas que abriram rente ao muro que marca a bifurcação do caminho que leva ao largo. Hoje não está lá o pequeno cão preto que guarda a passagem, atento e carrancudo como Caronte, o barqueiro do Hades. Estas são rosas literalmente cor-de-rosa, túrgidas, de pétalas labirínticas e resistentes, e não brancas e frágeis como as rosas que florescem em cachos no mês de Maio junto ao barranco por estes dias cheio de água, uma água argilosa que corre rápida e rumorosa escondendo as margens cobertas de musgo do atalho agora impraticável, os campos à volta forrados de uma erva alta e viçosa que deixa em destaque o laranja – sóis artificiais que ornamentam os campos – das laranjeiras carregadas, todas as outras árvores nuas, com excepção de uma ou outra figueira cujas folhas ásperas se recusam a encarquilhar ou de uma ou outra nespereira de floração amarelada, desgrenhada e sem graça. De resto, a Natureza tem sido generosa em água e trovoadas nocturnas. Os raios que antecedem o estrondear dos céus iluminam o rio e assombram a sonolência dos barcos. Espectáculo que permite perceber a diferença entre o belo e o sublime, dão-se graças por aqui à existência de pára-raios.

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