O meu amigo foi às Finanças em Lisboa. Nas Finanças em Lisboa, primeiro ficaram baralhados mas depois lá o encaminharam para a Direcção de Serviços das Relações Internacionais, uma repartição modernaça que só atende por telefone e por e-mail. Nada de contactos físicos.
Na Direcção de Serviços das Relações Internacionais foram super-despachados e mandaram-no descarregar por "via electrónica" um formulário qualquer que serviria de certificado de residência fiscal. Ele assim fez e mandou a papelada para Espanha. Os espanhóis, picuinhas, responderam-lhe que aquilo, apesar de muito bem descarregado por via electrónica, não servia para nada sem um selo branco, vulgo apostilla de la Haya.
O meu amigo voltou às Finanças. Nas Finanças mandaram-no telefonar de novo para a Direcção de Serviços das Relações Internacionais que o assunto era com eles. Ele voltou a telefonar. Responderam-lhe que devia haver engano porque o selo branco já não existia há muito. Que fosse chatear os espanhóis.
Ele foi chatear os espanhóis. Os espanhóis, muito simpaticamente e, aparentemente, nada chateados, devolveram-lhe a papelada toda para casa, dentro de uma caixa almofada e com aviso de recepção, pediam imensa desculpa mas sem apostilla de la Haya chapéu.
O meu amigo tornou a telefonar para a Direcção de Serviços das Relações Internacionais. A mesma senhora que já o havia atendido garantiu-lhe com enfado e pela terceira vez que em Espanha eram uma cambada de retrógrados e que nós portugueses éramos muito mais modernos e a prova disso é que tínhamos acabado com essa coisa da apostilla de la Haya.
Quase dois meses passados nisto, o meu amigo começou a desesperar e resolveu escrever ao editor espanhol que lhe tinha pedido as traduções, expondo-lhe o caso. O editor espanhol foi-se informar nas finanças espanholas que não arredaram pé: ou ele arranja o selo branco ou sacamos-lhes 24%.
Prestes a desistir – já que aqui insistiam que o selo branco era coisa de trogloditas – recebe um e-mail de Espanha.
O editor telefonara para a Embaixada de Espanha em Portugal e da Embaixada de Espanha em Portugal haviam-lhe dito que o que o tradutor tinha que fazer era ir à Procuradoria-Geral da República em Lisboa – até indicavam a morada e o número de telefone – e pedir para lhe carimbarem o papel com o selo branco.
Após um telefonema rápido que confirmou a veracidade da informação, o meu amigo dirigiu-se à Procuradoria não sem que, antes disso, enviasse um e-mail ao coordenador da Direcção de Serviços das Relações Internacionais dizendo-lhe que, talvez ele, coordenador, não acreditasse nas apostillas de la Haya pero que las hay las hay e enquanto se dirigia à Procuradoria, menos patriota ainda do que eu, recordou o dia amaldiçoado em que defenestraram o Miguel de Vasconcelos e ressuscitaram esta coisa.
Na Direcção de Serviços das Relações Internacionais foram super-despachados e mandaram-no descarregar por "via electrónica" um formulário qualquer que serviria de certificado de residência fiscal. Ele assim fez e mandou a papelada para Espanha. Os espanhóis, picuinhas, responderam-lhe que aquilo, apesar de muito bem descarregado por via electrónica, não servia para nada sem um selo branco, vulgo apostilla de la Haya.
O meu amigo voltou às Finanças. Nas Finanças mandaram-no telefonar de novo para a Direcção de Serviços das Relações Internacionais que o assunto era com eles. Ele voltou a telefonar. Responderam-lhe que devia haver engano porque o selo branco já não existia há muito. Que fosse chatear os espanhóis.
Ele foi chatear os espanhóis. Os espanhóis, muito simpaticamente e, aparentemente, nada chateados, devolveram-lhe a papelada toda para casa, dentro de uma caixa almofada e com aviso de recepção, pediam imensa desculpa mas sem apostilla de la Haya chapéu.
O meu amigo tornou a telefonar para a Direcção de Serviços das Relações Internacionais. A mesma senhora que já o havia atendido garantiu-lhe com enfado e pela terceira vez que em Espanha eram uma cambada de retrógrados e que nós portugueses éramos muito mais modernos e a prova disso é que tínhamos acabado com essa coisa da apostilla de la Haya.
Quase dois meses passados nisto, o meu amigo começou a desesperar e resolveu escrever ao editor espanhol que lhe tinha pedido as traduções, expondo-lhe o caso. O editor espanhol foi-se informar nas finanças espanholas que não arredaram pé: ou ele arranja o selo branco ou sacamos-lhes 24%.
Prestes a desistir – já que aqui insistiam que o selo branco era coisa de trogloditas – recebe um e-mail de Espanha.
O editor telefonara para a Embaixada de Espanha em Portugal e da Embaixada de Espanha em Portugal haviam-lhe dito que o que o tradutor tinha que fazer era ir à Procuradoria-Geral da República em Lisboa – até indicavam a morada e o número de telefone – e pedir para lhe carimbarem o papel com o selo branco.
Após um telefonema rápido que confirmou a veracidade da informação, o meu amigo dirigiu-se à Procuradoria não sem que, antes disso, enviasse um e-mail ao coordenador da Direcção de Serviços das Relações Internacionais dizendo-lhe que, talvez ele, coordenador, não acreditasse nas apostillas de la Haya pero que las hay las hay e enquanto se dirigia à Procuradoria, menos patriota ainda do que eu, recordou o dia amaldiçoado em que defenestraram o Miguel de Vasconcelos e ressuscitaram esta coisa.