29/11/24
14/07/23
10/03/23
MEDITAÇÃO DE SEXTA: «Penélopes de todo o mundo, uni-vos!»
« (...) Escudo-me em Kafka (quando pedimos amparo a alguém, convém pedi-lo aos maiores). E se o checo pôde anotar no seu Diário (entrada de 2 de Agosto de 1914): “A Alemanha declarou guerra à Rússia. À tarde, piscina”, que me seja permitido escrever: a Rússia declarou guerra à Ucrânia. Desde então, crochet e mais crochet.
Venho sobretudo fazer a apologia do trabalho manual. O surgimento de uma forma nascida de uma massa informe. Garanto que é um milagre.
No caso específico do crochet, digamos que alia a tecedura às artes da aritmética e da geometria. Como fazer um quadrado em crochet? Um círculo? Um losango? Uma oval? E como montar losangos de maneira a criar um rectângulo, um quadrado? Todo um processo de cálculos, aumentos e diminuições que convoca as mãos e a abstracção. Afinal, o filósofo antigo Eratóstenes de Cirene não chegou à circunferência terrestre preso a equações abstrusas, mas agarrando numa vara e fazendo-se à estrada.
E se falo de equações abstrusas é para regressar a Mário Cesariny, esse poeta sábio e desconcertante que deixou dito: “… o homem precisa da mulher. É a tragédia dele. Inventou a Matemática, a Aritmética, a aviação, a Nona Sinfonia, a ida à Lua… (…) Ela, muito quietinha em casa, a tratar de coisas importantes, como a comida e a roupa, enquanto o sábio está a chorar frente às equações.” (in Uma Última Pergunta — Entrevistas com Mário Cesariny (1952-2006), Sistema Solar, 2020).
Ora, caro Mário, quietinhas em casa, digo-lhe eu, muita aritmética é precisa para fazer um crochet flower granny square! (...)»
04/11/22
08/10/13
Nuno Melo ou o deputado que organiza bailaricos
Quando se considera a Ana Malhoa e a Romana o melhor de Portugal, qual o espanto de se preferir o Salazar a Sócrates?
Como dizia o Cesariny: "Vem ver o povo que lindo é/ vem ver o povo dá cá o pé"

07/05/13
Só tenho uma dúvida, se eu não gostar de comer frango com as mãos mandam-me para um campo de reeducação na Coreia do Norte?
Vamos ver o povo
Que lindo é
Vamos ver o povo
Dá cá o pé
Vamos ver o povo
Hop-lá!
Vamos ver o povo
Já está.
A declaração de amor ao povo de José Luís Peixoto pode ser lida aqui.
22/04/12
A pão e água e era pouco
A semana passada, por exemplo, gostaria de ter falado da medida anti-tabágica anunciada por Paulo Macedo para proteger as crianças do fumo dos progenitores dentro de veículos fechados (nada foi dito, que eu saiba, sobre descapotáveis), medida que, naturalmente, faz o pleno com outra – a de querer encerrar a Maternidade Alfredo da Costa – esta última por razões obscuras (tão obscuras que nem a sagacidade de Marcelo Rebelo de Sousa as conseguiu desvelar).
Ia eu comentar as louváveis prioridades do ministro da Saúde quando tropeço noutro tema (neste caso musical): o hino do Movimento Zero Desperdício, com música de João Gil e letra de Tim, interpretado por cerca de 50 artistas de um largo espectro político (como sói dizer-se).
Começa assim:“Eu não sei o teu nome mas sei que te posso ajudar/Sei que andas a passar fome mesmo andando a trabalhar/ O que eu não aproveito ao almoço e ao jantar/ A ti deve dar jeito/ Temos de nos encontrar”.
Não vou falar da miséria das rimas nem dos pobrezinhos do antes do 25 de Abril (cada família tinha o seu…). Vou limitar-me, educadamente, a citar Mário Cesariny: afinal o que importa não é haver gente com fome// porque assim como assim ainda há muita gente que come.
11/12/11
“Não é desgraça ser pobre”
A última vez que tal coisa vimos foi quando da criação do Allgarve, golpe d’asa do ex-ministro Manuel Pinho, profeta inovador, além de temerário.
Segundo o recente relatório da OCDE, Divided We Stand: Why Inequality Keeps Rising, ainda haverá por aí muita gente que come mas o fosso entre os ricos e os pobres atingiu o nível mundial mais elevado das últimas três décadas.
23/04/11
Matéria não falta

Bastaria que lhe trocássemos a Universidade em Coimbra por outra na capital (Independente ou Moderna cairiam que nem ginjas). A carta de denúncia anónima teria novo destinatário: estando na moda, o DIAP. Quanto ao caso da criada, ver-se-ia substituído por aventura infecunda com aspirante a modelo. A carreira política iniciá-la-ia numa Câmara de província. Daí a conselheiro Acácio seria pequeno passo, função que acumularia com a de blogger de culto (e, de preferência, oculto).
Casa com filha de ex-ministro. Lua-de-mel no Bazaruto (where else?) e a deputação vem a caminho. Faz-se notar nas bancadas pela combatividade e certa linguagem chã. A previsível vitória da oposição leva-o a mudar de partido. Questionado sobre a sua decisão, cita Abranhos, o original: “Questões de latitude não mudam a política”. Divorcia-se com discrição. Chega a secretário de Estado. Poucos meses depois telefona em segredo para casa: “Pai, já sou ministro”. O alfaiate desliga.
Dois anos de serviço público e convidam-no para CEO. Aceita. Em missão além fronteiras, atravessa-se-lhe no caminho um sósia do Ricky Martin. Abranhos comes out of the closet e abre novo capítulo: la vida loca. A qualquer solicitação, passará a responder “I would prefer not to”. Há quem garanta que, abandonada por fim a carreira empresarial e trocado Ricky por Martin, se torna marchand em Berlim. Outros dão-no como transformista em Las Vegas. Um primo em 3º grau jura que o viu no Allgarve degustando sardinhas confitadas sur lit d’endives… Em suma: onde estão os escritores quando precisamos deles?
Imagem roubada aqui
05/09/10
A Casa Pia nunca existiu

Um processo é o que é e a justiça o que se sabe. Não vais ao cóquitel tás fodido, dizia o Cesariny.
Findo o primeiro round, os condenados cumprem o seu papel: recorrem. As vítimas regozijam-se, naturalmente. Um determinado tipo de reacções, ou a ausência delas, é que me espanta. Ou me envergonha.
Os que põem a mão no fogo pela inocência dos condenados (ou, pelo menos, pela de Carlos Cruz) usam dos mais variados argumentos. Da cabala política aos erros judiciários, do bode expiatório à inveja.
Os que não têm dúvidas sobre a decisão do tribunal clamam maioritariamente contra o tempo leve das penas (é verdade que se eu estivesse na pele do Bibi não hesitaria em pensar que cá no burgo a confissão não compensa…).
No intervalo, o absoluto silêncio. Em alternativa, um silêncio ruidoso e, como sempre, alicerçado no legalismo. Tomás Vasques escreve que se mantém fiel ao princípio da presunção de inocência até ao trânsito em julgado de sentença condenatória.
Parece-me bem mas deixo uma ou outra pergunta. Os arguidos foram ou não foram considerados culpados pelo Tribunal de Primeira Instância? A sua presunção de inocência sai ou não ferida neste primeiro acórdão, independentemente dos trâmites posteriores? E usando agora a muleta lançada pelo Marinho Pinho: se a coisa prescrever, como é possível que aconteça, qual será a posição do Tomás Vasques quando todos se safarem: vai considerá-los inocentes (à Leonor Beleza foi isso que aconteceu, não foi)?
Daniel Oliveira comenta o caso esperando que tenha sido feita justiça e mostrando-se sobretudo indignado — valha-lhe a retórica — com os jornalistas e com o Pedro Namora.
No Jugular, outro blogue de esquerda, sempre célere no apoio a todas as causas fracturantes, até ao momento em que escrevo a única referência consistia num post da Ana Matos Pires, que não faço ideia quem seja mas a falha é certamente minha, que esboça uma piada (?) sobre a relação entre a Casa Pia e a Maddie, remetendo para um jornal que também não costumo ler.
Não sou boa em listas e por isso fico-me por aqui.
Resumindo: nem uma palavra sobre as vítimas da Casa Pia (é que os miúdos foram mesmo repetidamente enrabados, topam?). Nem uma palavra sobre o padre António Emílio Figueiredo (já falecido) que denunciou o regabofe já nos idos de 60 e por isso foi para a rua (pois, temos pena mas este não era pedófilo). Nem uma palavra sobre o Mestre Américo Henriques, defensor dos putos e a quem a Costa Macedo decidiu pôr no sítio.
Resumindo que não me posso enervar: esta esquerda (desprovida de compaixão) não é a minha esquerda. Esta esquerda é quanto muito canhota.
23/06/10
Esta gente enoja-me: o tipo que demoliu a casa do Garrett foi nomeado presidente do Conselho de Administração da Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva

Informa-nos também o artigo do Público que o gajo que não teve pejo em demolir a casa onde morreu Almeida Garrett, transformando-a num bunker de luxo, até possui uma aguarela da pintora, comprada há cerca de 20 anos na Galeria 111. Fiquei comovida!
Mas mais comovida fiquei quando, a propósito, me lembrei do Cesariny que um dia, no atelier dele, à pergunta sobre onde estava a Vieira da Silva que a própria lhe oferecera, retorquiu com elegância que a trocara por uma carcaça.
Na altura, recordo, achei a resposta educada. Pela parte que me toca, contudo, de momento só me ocorre isto: bardamerda.
01/01/08
Em 2008 Fumamos como Perdidos ou Emigramos para Madrid Rendidos à Graciosa Irrespetuosidad que Es Característica del Madrileño. Cesariny Teria Gostado

Manual de Prestidigitação, Mário Cesariny, Assírio & Alvim
06/12/07
discurso sobre a reabilitação do real quotidiano

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