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12/09/10

Professora de braga confirma telepaticamente a inocência de carlos cruz (um exclusivo do expresso)



A intuição dela é como o algodão: nunca se engana. Viu o Carlos Cruz na televisão e alcançou o satori. Tudo isto em Braga.
Uma amiga que conhece bem o processo explicara-lhe que a polícia judiciária entalara deliberadamente o ex-apresentador mas foi ao assistir ao último Prós & Contras que todas as suas dúvidas se dissiparam (e o mesmo não se pode dizer do Daniel Oliveira...).
Falou com a irmã e uns amigos e, juntos, lançaram um abaixo-assinado, o qual, no momento em que escrevo, já tem 316 assinaturas.
Um dos subscritores mostra-se particularmente indignado: Esta sentença foi vergonhosa, como é possível que depois de tantos adiamentos os arguidos e advogados não tenham acesso ao acórdão antes da sentença.

Aguardam-se declarações do Ministério da Educação, da DREN e daquele senhor que tem a mania de falar em nome dos pais dos alunos e cujo nome de momento não me ocorre.

07/09/10

Posso não perceber nada de leis mas não serei completamente desprovida: ou há moralidade ou comem todos, eis a mensagem de Carlos Cruz

200 nomes. E não faz a coisa por menos.
A propósito, um texto com pés e cabeça que já começo a ficar farta de tanto choradinho sobre os perigos da justiça portuguesa bater aos pontos a da Coreia do Norte.

«Depois das lamentáveis e desastradas prestações televisivas dos últimos dias de Carlos Cruz e do seu advogado, o ex-apresentador de televisão parece agora disposto a avançar com outros meios para lançar a dúvida na opinião pública sobre a sua condenação.
A sua estratégia tem passado por várias fases: numa primeira fase clamou inocência com base no completo desconhecimento dos factos que lhe eram imputados ou se suspeitava ter praticado. Manteve-se nesta estratégia, mesmo depois de ter sido preso, até terem começado a circular publicamente depoimentos que o incriminavam.
Numa segunda fase, que parece ter começado na instrução e prevalecido durante todo o julgamento, a sua defesa preocupou-se fundamentalmente com a exibição de factos que pudessem contrariar ou pelo menos pôr em dúvida as provas incriminatórias. Daí a repetida alegação de que os factos imputados não estavam fundamentados.
Numa terceira fase, que parece ter começado imediatamente após o julgamento e que ontem já foi muito notória no programa “Prós e Contras”, a defesa parece basear-se na seguinte pergunta: “Então, se é assim, porquê só eu?”.
Esta é sem dúvida a estratégia que poderá colher mais aplauso junto da opinião pública e que mais problemas pode trazer aos poderes constituídos, a todos sem excepção. Sendo inequívoca a existência de múltiplas violações e de abusos sexuais sem conta, dezenas, centenas (...), é óbvio para toda a gente que o número de prevaricadores terá de ultrapassar em muito a meia dúzia de condenados do "Processo Casa Pia”.
Se é certo que relativamente a muitos o crime já prescreveu ou já se extinguiu o procedimento criminal por morte dos presumíveis culpados, não será menos verdade que relativamente a muitos outros tudo continua ainda sendo possível. E é essa questão que Carlos Cruz verdadeiramente promete reavivar quando, com aparente ingenuidade, a invoca em sua defesa. Aparentemente, Carlos Cruz quer dizer que a inconsistência da prova com base na qual foi condenado é tão evidente que a existência de provas idênticas produzida no processo não serviu sequer para processar mais ninguém, quanto mais para fundamentar outras condenações.
Realmente, o que Carlos Cruz quer dizer é que se os factos que serviram de prova e fundamento para a sua condenação são assim tão relevantes, muitos outros, além dele, terão igualmente de ser condenados por existir nos autos prova da mesma consistência relativamente a eles.
E com esta estratégia, verdadeiramente arriscada, mas também ditada por aquela coragem de quem já não tem nada a perder, ele sabe que pode conseguir uma de duas coisas: ou ganhar ou criar um problema de proporções incalculáveis de muito difícil solução.
Ou seja, para além da estratégia objectivamente prosseguida visando a prescrição do processo, vai agora ser posta em prática uma outra que aponta claramente para a absolvição por “conveniência prática”…»
Post roubado aqui.


E já agora que estou em maré cleptomaníaca, também valerá a pena ler isto:
«(...) num processo desta natureza, tendo em conta o tipo de crimes que estavam a ser julgados, a prova, nomeadamente a que vai para além da existência do facto, se faz — salvo situações excepcionais — mediante recurso a testemunhos. E que a prova testemunhal é livremente apreciada pelo tribunal: o juiz forma a sua convicção tendo em conta todos os elementos juridicamente relevantes. E a melhor doutrina até entende que o juiz (seja individual ou colectivo) do processo, salvaguardados os princípios do Estado de direito, dispõe de um poder discricionário na avaliação dos testemunhos, inalterável na sua concretização, pela proximidade e especial situação em que se encontra perante os factos. (...) E também é bom que se diga que a concordância dos depoimentos pode não ser suficiente para formar a convicção do julgador, assim como a sua eventual divergência o não impede de a formar com base naquele que considera mais credível. Pode haver erros: avaliações deficientes ou interpretações erradas. O que não pode é haver condenação com dúvidas: se o juiz tiver dúvidas, não condena; se não tiver, condena.

05/09/10

A Casa Pia nunca existiu

Conhecida a sentença que condena todos os arguidos — com excepção de Gertrudes Nunes, a dona da casa de Elvas absolvida por razões técnicas (alteração de 2007 à lei do lenocínio) —, os visados avisaram que vão recorrer da decisão. Marinho Pinto, que não falará de cor, garantiu publicamente que o risco de prescrição é real.
Um processo é o que é e a justiça o que se sabe. Não vais ao cóquitel tás fodido, dizia o Cesariny.
Findo o primeiro round, os condenados cumprem o seu papel: recorrem. As vítimas regozijam-se, naturalmente. Um determinado tipo de reacções, ou a ausência delas, é que me espanta. Ou me envergonha.
Os que põem a mão no fogo pela inocência dos condenados (ou, pelo menos, pela de Carlos Cruz) usam dos mais variados argumentos. Da cabala política aos erros judiciários, do bode expiatório à inveja.
Os que não têm dúvidas sobre a decisão do tribunal clamam maioritariamente contra o tempo leve das penas (é verdade que se eu estivesse na pele do Bibi não hesitaria em pensar que cá no burgo a confissão não compensa…).
No intervalo, o absoluto silêncio. Em alternativa, um silêncio ruidoso e, como sempre, alicerçado no legalismo. Tomás Vasques escreve que se mantém fiel ao princípio da presunção de inocência até ao trânsito em julgado de sentença condenatória.
Parece-me bem mas deixo uma ou outra pergunta. Os arguidos foram ou não foram considerados culpados pelo Tribunal de Primeira Instância? A sua presunção de inocência sai ou não ferida neste primeiro acórdão, independentemente dos trâmites posteriores? E usando agora a muleta lançada pelo Marinho Pinho: se a coisa prescrever, como é possível que aconteça, qual será a posição do Tomás Vasques quando todos se safarem: vai considerá-los inocentes (à Leonor Beleza foi isso que aconteceu, não foi)?
Daniel Oliveira comenta o caso esperando que tenha sido feita justiça e mostrando-se sobretudo indignado — valha-lhe a retórica — com os jornalistas e com o Pedro Namora.
No Jugular, outro blogue de esquerda, sempre célere no apoio a todas as causas fracturantes, até ao momento em que escrevo a única referência consistia num post da Ana Matos Pires, que não faço ideia quem seja mas a falha é certamente minha, que esboça uma piada (?) sobre a relação entre a Casa Pia e a Maddie, remetendo para um jornal que também não costumo ler.
Não sou boa em listas e por isso fico-me por aqui.
Resumindo: nem uma palavra sobre as vítimas da Casa Pia (é que os miúdos foram mesmo repetidamente enrabados, topam?). Nem uma palavra sobre o padre António Emílio Figueiredo (já falecido) que denunciou o regabofe já nos idos de 60 e por isso foi para a rua (pois, temos pena mas este não era pedófilo). Nem uma palavra sobre o Mestre Américo Henriques, defensor dos putos e a quem a Costa Macedo decidiu pôr no sítio.
Resumindo que não me posso enervar: esta esquerda (desprovida de compaixão) não é a minha esquerda. Esta esquerda é quanto muito canhota.

30/07/10

Da casa pia ao fripór sem esquecer as scuts e as causas da decadência do Quental

Na minha opinião (muitíssimo pessoal) isto começou irreversivelmente a afundar-se no dia em que Carlos Cruz foi chorar à TV. Como todos os que eram nascidos na altura se lembrarão de certeza, vivia-se um tsunami avant la lettre.
O Carlos Cruz!!! E sim, ponham pontos de exclamação nisso.
Também eu fiquei de boca aberta. Depois vi-o chorar no ecrã e a coisa cheirou-me a esturro: cá para mim, que já li muitos livros e assisti a muitos filmes embora desconfie visceralmente da psicologia e possa estar enganada, um homem acusado de pedofilia não chora. Fica em estado catatónico, enfurece-se, gagueja ou pragueja, mas não chora. E não estou a citar Sttau Monteiro nem o Gonçalo Amaral.
Culpado ou inocente, confrontar-se com a simples eventualidade de um Carlos Cruz pedófilo terá sido para todos o que de algum modo simpatizavam com ele (e eram quase todos) tão devastador como (imagina-se) o encontro de Maiakovski com a besta estalinista. Mas enquanto o poeta russo se foi com um tiro certeiro no coração, os portugueses continuaram a reproduzir-se.
Carlos Cruz era, pois, um tipo simpático. Excelente comunicador, encarnava uma espécie de good neighbor next door, género Tom Hanks mas mais baixo. E também ele transversal a todos os géneros, gerações, e credos.
Resumindo: a participação no velho Zip Zip garantia-lhe uma aura anti-fascista (palavra muito em voga a dada altura); a locução do programa humorístico Pão com Manteiga — onde lia com sotaque brasileiro a memorável frase Este já está liquidado. O tiro foi bem na testa. Não comerá mais criancinhas no caminho da floresta — garantia-lhe uma aura libertária; a apresentação de Quem Quer Ser Milionário alargou-lhe a zona de influência e, finalmente, ao dar o rosto pelo euro tornou-se num valor unânime (a malta do PCP, que era contra o euro, estava garantida por causa do Zip Zip...).
Carlos Cruz era assim uma espécie de Mário Soares dos pequeninos pró maior, porque nem lhe era necessário descontar o ódio persistente dos taxistas.
Agora imaginem comigo. O que é que aconteceria se alguém descobrisse que a própria mãe — que lhe ensinara coisas tão inócuas como comer sem pôr os cotovelos na mesa — escondia dentro de si um Hannibal Lecter?
Pondo de lado a hipótese reconfortante de tal pessoa se converter ao vegetarianismo, é provável que o seu sistema de valores ficasse um tanto baralhado.
Tenho para mim que foi isso que aconteceu a Portugal. Seja Carlos Cruz condenado ou não pela justiça, a mera suspeita abriu a caixa de Pandora e não há como fechá-la.
Pondo as coisas em perspectiva.
O que é o inglês técnico de Sócrates comparado com pedofilia? O que são os submarinos de Portas comparados com pedofilia? O que é um sobrinho na Suíça comparado com pedofilia? O que são as offshores do BPN comparadas com pedofilia? O que são os robalos de Vara comparados com pedofilia? O que é um centro comercial em Alcochete comparado com pedofilia? O que é o gamanço de dois gravadores comparado com pedofilia? O que são as lutas intestinas no Ministério Público comparadas com pedofilia? Etc.
Comparado com pedofilia, talvez mesmo só as SCUTs. Isto atendendo, pelo menos, à projecção da polémica, cuja dimensão interclassista e catastrofista já levou muitos comentadores, ou pelo menos eu, a antevê-las como o (contra)ponto G que fará cair o governo.
Entretanto, a reflexão sobre o caso das SCUTs, matéria que parece indiciar uma estranha fixação automobilística do povo lusitano — talvez só comparável à fase anal definida por Freud — remeteu-me, sem eu querer até porque não conduzo, para uma frase do Sena: O problema não é salvar Portugal, é salvarmo-nos de Portugal.
Eu sei que Sena tinha mau feitio. Mas com feitio ou sem feitio, tenho para mim que o homem estava certo. O que me cria um problema novo: a frase foi escrita muito antes do libelo a Carlos Cruz. Ou seja, talvez não resida nele a explicação que eu buscava e, assim sendo, este post não tem pés nem cabeça. Ou terá? Em verdade vos digo que não sei.
O que sei resumidamente é isto.
O Sócrates aborrece-me. O Passos maça-me. Cavaco anestesia-me. Quanto ao resto, Portas tem boa voz mas não me encanta; o PCP idolatrou anos e anos a Zita e só isso é quanto basta; por fim, o fracturante Louçã: demasiado beato.
Apesar de tudo e parafraseando o outro, we'll always have Cormac. Melhor dizendo, no country for old ladies que quanto à decadência já Antero falava disso e antes de haver televisão.

28/02/10

Pois é, isto anda por aí muita gente deprimida

Apesar da auto-estima de Amado que garante que lá fora é só elogios, nunca vi tanta gente deprimida por metro quadrado. Tenho para mim que tudo começou quando os portugueses assistiram pela tv às lágrimas de Carlos Cruz (claro que também podíamos recuar aos tempos de Afonso Henriques para concluir que uma nação que começa com um filho a tentar matar a mãe não augura grande futuro...).
Sem ir tão longe, diria que a partir do choro em directo tudo se precipitou. A crise ajudou à festa, Sócrates ajudou à festa, o PS ajudou à festa, o PSD ajudou à festa, o CDS ajudou à festa, o BE entrou em força na festa e o PC só gosta de festejar sozinho. De Cavaco não vale a pena falar.
Num país sem independentes a sério e onde poucos são aqueles que não têm telhados de vidro, com elites de merda, gente malcriada*, mergulhado num novo-riquismo ignorante que permite a uma empresa parceira do Estado afirmar que vende painéis solares que funcionam maravilhosamente com céu nublado, chuva e durante a noite e ninguém no governo se pergunta com que raio de energia funcionam afinal, estupidamente hipnotizado pelas “novas tecnologias” à prova de choque, seduzido por uma modernidade bolorenta que obrigou Portugal a mudar-se para a West Coast e o Algarve a dois LL, tudo antes do acordo ortográfico, onde a elementar decência é vista como burrice e a vigarice prova de inteligência, onde a autoridade se confunde com autoritarismo e à costumeira inveja se alia o encolher de ombros… Pois bem, consola-me que no meio disto tudo, assim como assim, haja tantos deprimidos: “Não é de admirar que a depressão seja hoje um mal tão comum. É quase reconfortante. É sinal que no íntimo das pessoas ainda resta o desejo de serem mais humanas.” (Disse-me um Adivinho, Tiziano Terzani, Tinta-da-China)
O problema, claro, está no quase. E nos que nunca deprimem.
*Cabe na cabeça de alguém, um primeiro-ministro, canastrão ou não canastrão quero lá saber, ser convidado de uma das poucas fábricas que funcionam em Portugal e pôr-se a fazer publicidade à concorrência directa? (ouvir aqui)