18/11/22

MEDITAÇÃO DE SEXTA: «O INVERSO DE PINTAR UM CLIMA»

«... leio agora num comunicado assinado por Miguel Tamen, o director responsável pelo pedido de intervenção das forças de segurança, que “na noite de sexta-feira, onze polícias retiraram treze estudantes das nossas instalações. Nove saíram livremente. Três colaram-se ao chão; e um ficou com eles. A polícia retirou os três estudantes das instalações; e o quarto saiu com este último grupo”.

O descritivo contabilístico de Miguel Tamen lembrou-me de repente um parecer do Conselho Consultivo da Procuradoria-Geral da República (Parecer: P000401989): “Quantas pessoas terá de envolver o ajuntamento para que possa merecer o qualificativo de manifestação? Eis um problema cuja resolução tem atormentado os espíritos e esvaziado as penas de alguns dos mais prestigiados constitucionalistas alemães: sete, dizem uns; três; afirmam outros; duas bastam, replicam ainda alguns. Perante a transcendência de tal imbróglio, a nossa opinião, certamente de pouco préstimo, vai no sentido de considerar que, sendo duas pessoas já uma pluralidade, esse número deverá ser suficiente”.

É verdade que, pelo menos no meu tempo de estudante, ainda se falava em vanguardas. Mas mesmo considerando que quatro “já é uma pluralidade”, e porque se trata de Letras, permitam-se que recorra a Shakespeare: não terá sido a polícia, much ado about nothing? É que quando a guerra do clima for a sério (e um dia será a sério) nem chamando o exército. (...)»

Sem comentários: