A ENTREVISTA (1 de Março)
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9 comentários:
Concordo com o Professor John Mearsheimer em quase tudo. Nenhuma potência ocidental aceitaria o alinhamento político e militar de um país vizinho com a China ou Rússia, sem que isso criasse uma crise que pudesse evoluir para um conflito militar. Os EUA e a UE têm grande responsabilidade nesta crise. Porém, continuo a achar que o expansionismo da UE ainda é mais insidioso do que o da NATO. Lembro-me da revolta que senti ao ouvir as declarações de vários deputados e dirigentes europeus, que ao mesmo tempo que acusavam o RU de ressucitar a tensão na Irlanda do Norte, apelaram publicamente à indepêndencia da Escócia pós Brexit,ignorando a catástrofe que significaria criar uma fronteira física entre duas nações com séculos de integração.Sempre me considerei anti-Brexit, até esse momento.
Viva! Não deixa de ser curioso que as análises mais críticas das razões para se ter chegado a esta calamidade venham dos EUA. Na Europa da UE, só não se fuzilam "traidores" porque não se pode. E qt. a Portugal, nem vale a pena falar. Se no fim, Putin conseguir o que queria, alguém terá de contar os mortos. Entretanto, imagino a China a esfregar as mãos de contente...
A China só tem a ganhar, claro. No meio disto tudo, só há um país que me surpreende,...o Brasil, onde os neo-liberais pró-Biden estão tão desacreditados, que fizeram com que a Dilma e o Bolsonaro sejam quase aliados nesta questão....lol
O problema com o argumento de Mearsheimer é que se baseia tacitamente no contra-factual, o que é inválido em História. O que Putin teria feito se a Nato tivesse ficado quietinha para cá da Cortina de Ferro é pura especulação. A única coisa certa é que com as movimentações na Ucrânia ajudaram Putin a fabricar "pretextos" para a agressão.
"Pecado original", se o houve, terá antes sido a terapia de choque levada pelos americanos até à Rússia desde a primeira metade dos anos 90. Foi isso que, ao amplificar a crise sócio-económica, criou o caldo de cultura que permitiu a Putin subir ao poder personificando o "homem forte" para restabelecer a dignidade da Rússia. A partir daí, o resto era previsível nos seus traços gerais, embora não no detalhe dos acontecimentos e da cronologia.
Miguel, qd se tentam explicar as razões de determinado fenómeno histórico, não creio que isso implique garantir o que teria acontecido se a realidade fosse outra. A história não é uma ciência exacta. Por outro lado, o que me incomoda mesmo é que ao insistirem no alargamento da Nato, deram pretexto ao Putin. Se ele arranjaria outros? Pois talvez. Mas se entramos por aí, entramos na irracionalidade total. Aquilo a que assistimos é a um país a ferro e fogo, depois de o terem convencido que a ajuda estava ao virar da esquina.
Ana Cristina...e a gota de água de que quase ninguém fala, a não ser os republicanos americanos, claro, foi a declaração de apoio de Biden à adesão da Ucrânia à NATO, em Dezembro de 2021. Isto foi o equivalente a uma declaração de guerra a Putin, ou seja, Biden fez tudo para escalar o conflito, mesmo sabendo que se o pior viesse a acontecer, a NATO nunca interviria e a Ucrânia sofreria as consequências, sózinha.Isto não tem classificação possível....Recordo a notícia da Reuters, após o encontro de Zelensky com Biden.
"KYIV, Dec 9 (Reuters) - U.S. President Joe Biden assured Ukrainian President Volodymyr Zelenskiy that Kyiv's bid to join the NATO military alliance was in its own hands, Zelenskiy's chief of staff said after the two leaders spoke on Thursday."
https://www.reuters.com/world/europe/ukrainian-president-zelenskiy-holding-talks-with-biden-adviser-says-2021-12-09/
«qd se tentam explicar as razões de determinado fenómeno histórico, não creio que isso implique garantir o que teria acontecido se a realidade fosse outra.»
Ana, de acordo. A minha objecção tinha sobretudo como alvo uma interpretação maximalista da tese de Mearsheimer (que me parece ser a que ele advoca). Recusar essa interpretação maximalista não equivale a branquear as acções da Nato na Ucrânia, ainda menos desistir de analisar o que se passou para tentar compreender o que "nos" levou até aqui. Parece-me que neste aspecto pelo menos não haverá grande desacordo entre nós.
Miguel, não me parece que Mearsheimer faça futurismo ou entre pela história do E SE: limita-se a interpretar e trabalhar com os dados em presença. Mas deixei agora mesmo uma entrevista com outro historiador, o Timothy Snyder, que parece preferir uma leitura diferente. Isto se fosse física talvez fosse menos confuso, apesar da física contemporânea ser bastante confusa :)
Júlio, pode tirar-se o americano do cowboy, mas nunca o cowboy de um americano :)
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