25/05/13

Se a Europa [ainda] fosse isto, estávamos safos.

Jacques Canetti é um judeu dos nossos que partiram, sefardita que nasceu na Bulgária, na margem do Danúbio, irmão de Elias Canetti, Nobel de Literatura, que escrevia em alemão mas morreu cidadão britânico, na Suíça. Jacques, esse, tornou-se francês, patrão artístico dos discos Polydor, para proveito do mundo pelo que fez por Brel, que era belga, e Serge Gainsbourg, filho de russos, e por ter convencido o francês, nascido em Reggio nell"Emilia, Itália, Serge Reggiani, então com 41 anos, a começar a cantar. Isto deu: Ma Liberté, Votre Fille a Vingt e Sarah, canções oferecidas por um grego, nascido no Egito, Georges Moustaki. Há uns anos, em 2008, eu escrevi uma crónica sobre Aznavour, que cantara na véspera em Lisboa. Uma crónica sobre um rapaz batizado Shahnourh, filho de arménios, que virou Charles e símbolo de França, porque nasceu num porto, num cruzamento do mundo, em Paris. E dele parti para a canção de há quarenta anos, Le Métèque, que não era dele, era de Georges Moustaki. A canção do meteco, palavra do grego metoikos, como os atenienses chamavam aos que não eram da cidade, que viviam nela mas tinham vindo de longe. Meteco como Moustaki, filho de Alexandria, e que desaguou em França para a inundar de belas canções. Meteco como Aznavour. Este fez 89 anos anteontem. Moustaki morreu ontem. Ambos amantes de Édith Piaf, filha de uma berbere... Onde é que eu estava? Ah, já sei, a Europa. É grande.

Ferreira Fernandes 

1 comentário:

alexandra g. disse...

Ai que lindo, gente que se perde :)