Éramos três e iniciávamos o on the road cantando alegremente ‘The rain in Spain stays mainly in the plain’. Naquele tempo, “Madrid me mata” não era uma figura de estilo. Madrid matava-nos mesmo, tão certo como ser a “língua (…) o petróleo da nossa relação”, para citar, não Oscar Mariné ou sequer a lírica de Camões, tão-só o poetar timorense do ministro Miguel Relvas.
Já por tierras de España, “al declinar la tarde, sobre el remoto alcor”, trocámos a elegância fonética pelas canções de Sabina e foi um fartote.
“Madrid es un disparate”, havia de dizer-me a meio de um cocido o velho poeta Antonio Ferres, o que, traduzido, quer dizer mais coisa menos coisa que a capital espanhola é um excesso, para o que muito contribuirá, aliás, a 'graciosa irrespetuosidad que es característica del madrileno', socorrendo-me aqui de uma frase de Ortega y Gasset que nunca ouvi citada por Sócrates.
Ao abandonar, então, a nossa zona de conforto, “Nápoles por suíços habitada”, deixávamos para trás a “videirunha à portuguesa”, seguindo movidos pela poesia de O’Neill e o desejo firme de contrariar o Roque. Em Madrid, a fiesta misturava-se – arbitrariamente – com a siesta. Sucumbimos.
Claro que a “alma dos povos” é conceito pré-científico, e limitado o empirismo impressionista. Ainda assim, décadas passadas sobre a nossa incursão madrilena, Juan José Millás publica no El Pais um texto sobre a crise com o sugestivo título “O cano de uma pistola pelo cu acima” (no original, Un cañón en el culo), enquanto em Portugal é notícia o queixume de um escritor “absolutamente decapitado pela minha [dele] editora”.
Será a culpa das varizes de que falava o Roque ou existirá mesmo uma máquina de fazer espanhóis?
09/09/12
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3 comentários:
sobre o decapitado e correspondências achei piada, do El PAIS, (estamos numa máquina de fazer espanhóis, não é?) este:
http://sociedad.elpais.com/sociedad/2012/08/15/actualidad/1345054736_377133.html
Madrid é excessiva porque Lisboa é pequenina. Todas aquela pintura fabulosa exposta no Verão madrileno demonstra quanto Lisboa e quem governa o país é pequeno.
O titulo foi usado num espectulo de declamação de textos pelo Miguel Guilherme.
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