Devo confessar que ser detida a milhares de quilómetros de casa é uma desagradável experiência. Foi o que me aconteceu há uns anos, quando visitei os EUA, destination Las Vegas.
Após o que me pareceu um caloroso Good Morning!, estendi o passaporte para, segundos depois, me ver recambiada para uma sala inóspita onde aguardei três horas pela devolução do dito.
Às minhas insistentes perguntas sobre qual era o problema, a resposta resumia-se a um lacónico you must wait, madame, sente-se e ponto final, proferido por um representante da Lei, dois metros e 150 quilos, tal e qual como nos filmes. É nestas situações que uma pessoa fica a perceber quem manda.
Por fim, o funcionário chamou-me e devolveu-me o passaporte. E segurávamos ambos o precioso documento quando ele me pergunta o que é que eu ia fazer a Las Vegas.
Lembrei-me de “O Jogador” (a literatura acompanha-me sempre nos momentos críticos) e respondi-lhe gambling. Não era exactamente verdade, mas a piada saiu-me à mistura com um sorriso nervoso, tanto mais nervoso quanto li na cara do homem que a literatura russa não era a sua cup of tea.
Lá me safei às arrecuas e consegui apanhar a ligação para Las Vegas, delírio veneziano plantado no meio do deserto onde gambling e poesia se misturam: “Are you writing a poem?”, perguntam-me no Casino Royale, enquanto tomo nota de um informação qualquer.
Tudo isto me surgiu em catadupa ao ler que a Unibet lançou apostas online sobre a demissão de Relvas. O que, por sua vez, me lembrou um episódio contado por Mark Twain: um homem foi dar à viúva de Jo Toole a notícia da sua morte: “O Joe Toole vive aqui?” E quando a viúva respondeu que sim, ele disparou: “Quanto aposta que não?”
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1 comentário:
Muito bom. :)
As usual.
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