É dos livros que Salazar caiu de uma cadeira e depois disso nada foi como dantes. Como seria de esperar numa terra de escravos, cu pró ar ouvindo/ ranger no nevoeiro a nau do Encoberto, a queda, embora aparatosa, foi amortecida. Tão amortecida que uma farsa se organizaria em torno do Presidente do Conselho, convencendo-se este por dois anos que continuava a mandar. Mas “Tudo É Vaidade” e a Ceifeira levá-lo-ia a 27 de Julho de 1970, dia em que muitos portugueses optaram por aprimorar-se com uma gravata vermelha, ainda as gravatas não tinham sido proibidas por Assunção Cristas.
O caso é que antes da morte do ditador se tornar oficial, na editora onde a minha mãe trabalhava se soube por portas e travessas clandestinas que Salazar já não estava entre nós. Primeiro foi a descrença, natural ao fim de 36 anos, depois foi a festa. Resumindo: a contribuição dos presentes para o Produto Interno Bruto baixou nesse dia para níveis negativos.
A minha mãe resolveu, então, avisar o marido da boa nova, certa que essa seria a retaliação possível pelos anos que este passara a
olhar o mar revoltado e teatral no Forte de Peniche. Telefonou e disse: “Prepara champanhe, temos de comemorar”. Uma colega acrescentaria entre risos: “Acabaram as filmagens do Solar das Oliveiras”.
A graça acabou mal e acabaram as duas na António Maria Cardoso, no edifício da PIDE onde, em memória das vítimas, foi entretanto erguido um condomínio de luxo.
A polícia chegara depressa, e elas, identificadas já pela voz, receberam ordem de prisão. Quanto a meu pai, passaria a noite à espera da mulher na rua de má memória, sem champanhe, e não sei se de gravata vermelha.
E é também por isto que gosto muito do 25 de Abril.
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4 comentários:
Só em Portugal. Só os portugueses. Aqui não se derrubam os ditadores.Espera-se que caiam de podres e depois faz-se uma festa disfarçada.
Como chegámos a isto? De povo tão ousado que éramos, que púnhamos a navegação à frente da própria vida (navegar era preciso), tornámo-nos num povo hesitante e acobardado.
Até para lançar um ovo à cabeça dum polícia, numa manifestação frente à AR, foi preciso um estrangeiro, no meio de uma turba de portugueses.
Continuamos os mesmos. Como sempre.
Se continuarmos, como o temos feito, a olhar só para traz, nada feito.
Devemos nunca esquecer, mas olhar em frente.
sick
(...)make me
AMCD,a igreja fàcil; com o atardamento educacional dos tugas e o aparvalhemento das vélhas com o tide a fàtima,e a mèrda do hino que nem foi um Portugues que o compos.Méte os Brazucas que voltaram no século 18 e tens todos os ingredientes para uma dictadura.Os Anglos estao mortos de rir.Depois do golpe d'Àfrica
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