12/03/12

My name is Potter, Harry Potter

Há quem diga que a literatura não serve para nada, sendo precisamente dessa inutilidade que retira todo o seu charme.
É verdade que a sua função não se pode comparar à de uma obra de engenharia ou sequer a uma descoberta científica: o que é A Montanha Mágica quando confrontada com uma caixa de antibióticos? Mas se o facto de eu ter lido o romance de Thomas Mann durante uma convalescença nada nos diz sobre as suas qualidades curativas, já o peso das suas mais de 800 páginas facilmente o qualifica como arma de arremesso.
Seria algo demagógico insistir agora em outras funções menos próprias da literatura, apesar de estas existirem: um exemplar de Os Lusíadas convertido em base para copos, a extraordinária novela de Joseph Conrad, Mocidade, a servir de mata-moscas.
Posto isto, nem os mais arreigados defensores da improficiência literária poderão negar que aquela cumpre, chegados aos animais políticos, uma importante função decorativa.
São as estantes em fundo nas entrevistas domésticas, são os livros pousados estrategicamente nas mesas dos gabinetes, são as citações corroborativas do disparate. Num mundo rendido à tecnologia, a literatura empresta patine, mesmo se no fim se roça o caricato.
Foi assim no caso de “Fenomenologia do Ser” lido por Passos Coelho, livro que Sartre nunca escreveu, foi assim no silogismo proferido por José Sócrates: “Mário Soares é um patriota, gosta de Camões. Eu gosto de políticos que gostam de Camões. Eu gosto muito do drº Mário Soares”.
Note-se, porém, a busca de elevação dos dois exemplos: Sartre e Camões.
Também por isso não queria acreditar quando ouvi Miguel Relvas na televisão citar Potter. Harry Potter. Já era mau. Mas chamar-lhe Porter? E duas vezes? É as Trevas!

9 comentários:

m.a.g. disse...

O porteiro toca sempre duas vezes, mas pior que isso é o 13 (treUze).

Ana Cristina Leonardo disse...

número esotérico?

m.a.g. disse...

:)
É recorrente e di-lo com toda a segurança.

Anónimo disse...

Julgava que depois de o defuntíssimo Santana Lopes ter referido os concertos de violino de Chopin e de o esfíngico Senhor Presidente ter confundido Thomas Mann como Thomas More e aludido aos 12 cantos d'Os Lusíadas, nada mais me surpreenderia...

Ana Cristina Leonardo disse...

anónimo, o universo é um poço sem fundo de surpresas

fado alexandrino. disse...

Errar é próprio dos árbitros.
Estes erros aqui e agora dos políticos lembrados fazem-me recordar (ainda que muita gente os esqueça)uma senhora locutora que confundiu Beirut com Bayreuth e outra que estava alegremente divertida porque era o Dia da Rádio (Renascença?)que Curie tinha descoberto.
É como o tempo dos "descontos" nos jogos da bola.
A fama a quem a tem.

henedina disse...

Antes ler Porter, Porter do que não ler nada. Alias depois de Potter a seguir foi um filme de terror...

F disse...

LOL

fallorca disse...

É caso para se dizer: Harry que é mesmo porter à porter