O País das Pessoas de Pernas para o Ar é um título de Manuel António Pina com bonecos do João Botelho que eu li no já vetusto ano de 1973 quando a Regra do Jogo o editou. Dirigido à infância, reunia quatro histórias e foi a obra de estreia do poeta.
Os anos passaram, Manuel António Pina foi melhorando com a idade e, já este ano, viu ser-lhe atribuído o Prémio Camões. Quanto ao livro, desenterrei-o há uns tempos de uma pilha poeirenta, voltando a pensar nele ao tropeçar por acaso nas recentes declarações de Francisco Van Zeller, ex-presidente da CIP: “É ridículo o povo aceitar sacrifícios e não ir para a rua”. Estupefacta, recordei a frase de Belmiro de Azevedo proferida em 2010: “Quando o povo tem fome, tem direito a roubar”.
Dado que as duas afirmações me pareceram contaminadas por um radicalismo mais ajustado aos tempos do PREC – quando os ricos que pagassem a crise! – do que ao dos PEC – para o qual nem sequer conseguiram inventar um slogan de jeito – dei por mim a pensar que a coisa deve estar muito pior do que nos querem fazer crer.
Passos Coelho anunciou o fim da crise portuguesa para 2012 mas já Christine Lagarde preferiu avisar sobre a iminência da economia mundial entrar em recessão. Em quem acreditar?
Não será por falta de patriotismo mas, assim como assim, opto pela Christine (e eu até simpatizava mais com o Dominique). Afinal, cá pelo burgo andam a prometer-nos a salvação pelo menos desde 13 de Outubro de 2006, dia que ficará para a História pátria como aquele em que Manuel Pinho anunciou, não recordo já se com pompa e circunstância mas certamente com a costumada sapiência, que “a crise acabou”.
Segundo o novo governo falta-nos ainda e apenas um aninho. Só mais um esforço, pois, compatriotas. No entretanto, “ensinai aos vossos filhos o trabalho, ensinai às vossas filhas a modéstia, ensinai a todos a virtude da economia.”
Uma caixa de pílulas gratuitas ou, em alternativa, um broncodilatador à borla a quem adivinhar o autor da frase citada.
5 comentários:
Não vou responder à pergunta, pois é demasiado fácil. Deixo para outros... Para que não pensem que estou a fazer bluff, deixo o final da mesma. «E se não poderdes fazer deles santos, fazei ao menos deles cristãos».
Até os prémios deste blog saem do orçamento de estado. A pastelaria está na "periferia do Orçamento". é?
Podia oferecer um par de botas!
André, a sua resposta dá direito a 1/3 do prémio. Pílulas ou broncodilatador?
JARRA, para a próxima terei em conta a sua sugestão
Broncodilatador, s.f.f., que esta crise está a deixar-me asfixiado.
Também não digo o nome. Mas que o disse também afirmou "Instrução aos mais capazes, lugar aos mais competentes, trabalho a todos, eis o essencial".
De pílulas não preciso de broncodilatador é possível se não largar o vício. Agora, de botas? Mais botas?
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