25/11/22

MEDITAÇÃO DE SEXTA: «E O QUE DIRIA MONTAIGNE?»

 «... Quanto à morsa de Oslo, sujeita ao stress da presença humana apesar dos apelos para que deixassem o animal em paz, decidiram as autoridades, temendo que pudesse tornar-se agressiva, matá-la. Foi poupada no entanto ao esquartejamento ao vivo para educação dos infantes como aconteceu à girafa da Dinamarca. Não desesperemos: talvez seja verdade que o mundo pula e avança…

Não sei por que me lembrei da morsa. Da morte anunciada da morsa. Entretanto, os humanos já tinham chegado aos oito mil milhões de exemplares.

Talvez tenha sido — é uma hipótese que me coloco — devido à torrente de raciocínios absurdos com que nos presentearam ultimamente. E que não se deixe de considerar absurdo o raciocínio que esteve na origem da decisão de matar a morsa: os humanos estão a stressar o animal; o animal stressado pode tornar-se agressivo; mate-se o animal!

Note-se: eu não estou a sugerir, à maneira de Swiff, que, em vez de se matar a morsa, se matassem os humanos. Mas se ao menos falassem menos!

....

É neste quadro dantesco [do Qatar]  — em linha com o Afeganistão, embora sem cordilheiras e com bastante mais dunas, areia e estádios e hotéis —, que só podemos ficar sensibilizados com as declarações de António Costa recusando-se a ir para lá louvar a sharia, era o que mais faltava!, e em especial de Marcelo Rebelo de Sousa que, dando o corpo às balas (salvo seja) se mostrou disposto a encabeçar — in situ — uma arriscadíssima cruzada em prol dos direitos humanos.

Quanto a Augusto Santos Silva, nada lhe ouvi ainda, mas estou certa de que emprestará à defesa dos valores democráticos universais, a mesma determinação de que deu provas na defesa do Acordo Ortográfico. (...)»

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