13/01/14

A gente a falar.

Uma pessoa não quer falar do descansado do Eusébio. Uma pessoa quer falar do “inconseguimento” e do “nível social frustacional” (não deveria ser desfrustacional?). Uma pessoa quer dizer que lidou com o ser-do-ente do Heidegger, o falo e a fala do Lacan, o ser-em-si e o ser-para-si do Sartre, o Id, o Ego e o Super-ego... Inconseguimentos?! Pfft! Quantos são?! Quantos são?! Uma pessoa quer gritar à Helena Matos: sim, sou uma pseudo-intelectual, e depois? Depois foi o paroxismo: o Panteão, ok, mas a meias que é mais barato. Corta!
Cena 2: Um Eusébio estoico e bailarino sobrepõe-se à novilíngua e ao Eusébio “património nacional”, apesar de o corpo ainda quente e já a falarem de money (sai uma rodada de whisky em memória do morto, paga o Soares).
Cena 3: Eusébio de copo na mão num bar dançante, velho e porte de gigante, nada a ver com a altura em centímetros, meus senhores, um senhor!
Mais cenas. O presidente da República: “uma pessoa de grande humildade” (ai a humildadezinha, ai o bolor e as inanidades). O primeiro-ministro: “um exemplo de humildade” (outra vez o caruncho?!) E o Eusébio a meter-se no texto que era para ser sobre inconseguimento e nível frustacional mais o recalibrar do ministro a dilatar a base de incidência, sem esquecer a linha precaucionária, portugueses, vocês não me atravessem a linha precaucionária, e do nada aparece “O Touro Enraivecido”, “I’me the boss! I’me the boss! I’me the boss!...” e entra de novo o Eusébio, a farsa do Império multiracial a preto e branco agora em 2014 em directo e a cores: “O facto de não ser colocado num jazigo e ir para a terra, digamos assim, poderá estar de alguma forma ligado à cultura africana?”
Ora ai está uma pergunta que nada tem de pseudo-intelectual, nem sequer de intelectual, é mesmo só muito estúpida (sai um Livro do Génesis e mais um whisky por favor), e o mesmo Eusébio que levou com o Estado Novo leva com a imprensa livre e o Estado democrático, pão e circo, os Romanos estavam fartos de saber, isto já está tudo inventado, e também tudo ligado, a língua a inconseguir-se, sobra-nos o Eusébio e já não nos sobra o Eusébio, tudo a bajular o homem, tu dá-lhes baile, tu dá-lhes baile que não foste homem de letras mas para isso esteve cá o O’Neill a chamar-te “tragalhadanças”.
Quanto à segunda figura do Estado, pois que te faça uma saúde que talvez lhe baixe o nível frustacional. Que tu descanses e eles inconsigam é o que eu desejo.

4 comentários:

mjm disse...

ahahahahah...muito bom Ana Cristina Leonardo!
E cá vamos metrologicamente vivendo.

samartaime disse...

que eles inconsigam pelos séculos dos seculorum, ámen.
Brilhante.
Bem mais brilhante que toda a brilhantina do mundo.

platero disse...

PANTEÃO faz-me lembrar assim a modos que
COISA DE PANTANAS, sei lá

Pantagruel não, não tem nada a ver

se fosse PANTACRUEL

platero disse...

sobre a matéria tenho isto

estou mesmo a abusar - prometo não chatear muito

EUSÉBIO

de tanta idolatria
por EUSÉBIO
já dou comigo
a pensar nisto

em que Club
do Oriente Médio

terá jogado
há dois mil anos

JESUS CRISTO