05/09/13

E a Síria tão longe

"A Síria é hoje o terreno mais minado para a manipulação dos factos. Regime e oposição (oposições), aliados e inimigos, participam interesseiramente numa campanha de desinformação destinada a justificar e permitir acções favoráveis a um ou outro lado. 

Bashar al-Assad é um ditador cruel e assassino. Se precisar de utilizar, em desespero de causa, armas químicas, utiliza sem hesitações. Os grupos de oposição a Assad são cruéis e assassinos. Se precisarem de provocar um ataque químico (eles têm armas químicas) para instigar uma intervenção internacional, num momento em que militarmente estão quase derrotados, utilizarão as armas sem qualquer hesitação. Se tivessem armas nucleares também as usariam.

A França, os EUA, o Reino Unido sabem disso muito bem. Tem os seus serviços no terreno e “conselheiros” especiais junto de alguns grupos da oposição síria. Se Assad usou as armas químicas, iranianos e russos, sabem muito bem se tal é verdade ou não, porque também estão presentes no terreno. E não é num escritório com ar condicionado numa zona segura de Damasco. Ou seja, todos sabem, menos nós. Nós somos a carne de canhão da “opinião pública” destinada a legitimar o apoio a um ou a outros. Para nós, sobra o outro lado da guerra, o da desinformação, hoje tão fácil de fazer usando as redes sociais, filmes de telemóvel que não se sabe se são verdadeiros ou não, mas circulam. Imagens fortes destinadas a obter ganhos nas opiniões públicas são distribuídas com a menção em letras pequenas de que “não houve verificação independente”. Os jornalistas e os militantes de todas as causas simplificam e arranjam bons e maus, para ajudar á mobilização. Veja-se a Líbia, ou, para outros gostos, o Iraque. A França, que ainda acha que a Síria está na sua área de influência depois de a ter reivindicado na partilha do império otomano com o argumento dos reinos normandos das cruzadas, quer intervir, mas não tem meios. Precisa do Reino Unido e dos EUA, em que há também vontade de intervir para limitar geopoliticamente uma Rússia que, cada vez mais, assume a política soviética e pôr na ordem o Irão.

Podemos tentar aplicar a racionalidade. Assad sabe que as armas químicas são a “linha vermelha”, alguém tem que fazer alguma coisa para que essa “linha” seja ultrapassada. Assad na actual situação militar, que lhe é favorável, não precisa de usar armas químicas. Pelos vistos dizem que ele as usou, certamente para provocar sem necessidade uma resposta militar, nem que seja apenas punitiva. Racionalmente seria uma imbecilidade, mas é possível. Do lado dos grupos da oposição, também se sabe que a “linha vermelha” são as armas químicas, logo a racionalidade é fazer uma provocação qualquer para comprometer o regime e forçar a mão de americanos, franceses e ingleses. Os civis não contam para nada. Racionalmente seria assim, mas neste lado do mundo a crueldade absoluta anda à solta. Vamos continuar a ver na televisão.", José Pacheco Pereira."

3 comentários:

Miguel Serras Pereira disse...

Recomendação de leitura bem avisada, cara amiga. À qual me permito acrescentar esta outra, de uma tomada de posição do Passa Palavra sobre o mesmo tema: "Escolhas" (http://passapalavra.info/2013/09/83792).
Obrigado pela atenção e um abraço

msp

samartaime disse...

A patroa não se amofine que aquilo são pensamentos masculinos, portanto circulares. Temos que ter paciência mas os homens nasceram com aquela tendência canina de darem três voltas antes de se deitarem e não há nada a fazer! E estes dois, apesar das boas cabeças, não escapam à sua circunstância.
Desde o parecer do ilustrado Fradique Mendes de que a múmia fosse equiparada, segundo as pautas aduaneiras, ao arenque fumado para cruzar a fronteira portuguesa, que a minha alma estava sem saber quanto deveria ficar parva de espanto com tanta imbricação problémica.

Mas deixemo-nos de filosofias e ataquemos o pudim:

Ainda cedo na minha saudosa proto-história, li o Sandokan, o Tarzan, as Minas de Salomão, o Agente (deles) em Havana, Sinbad marinheiro, Ali-babá mais os quarenta e fiquei com achegas ao claro entendimento tão díspares quanto a manifestação das panelas em Santiago, a proteção a Bin Laden nas montanhas do Afeganistão, as conversas do Soares com o Carlucci, os solilóquios de Maduro no tumulo, etc., e [isto anda tudo ligado!] o triste suicídio do arqueólogo TE Lawrence depois de contar os sete pilares da sabedoria.
E note que nem sequer me aperpincuei do fulgurante iraniano icq
(ai ci qiú, veja lá) comprado por uns americanos e sumido das lides populares como melhoramento universal não sei de quem nem isso interessa.

Com um passamento proto-histórico destes dificilmente me ficaria para a história um resto de fé nas chamadas primaveras de quem quer que seja onde quer que seja: não há senhora do Livramento que me livre da rude e funda suspeição.

Hoje sou muito simplista com as revoluções:
diz-me para que servem as mulheres que eu digo-te o tempo que fará. .


samartaime disse...

http://youtu.be/_uCC-venMtU

porra porra porra que nunca perdoarei aos cabrões dos deuses todos