18/05/13

Da delapidação à não-depilação

Uma pessoa tenta ter graça. Wit. Presença de espírito. Consciente que nunca chegará aos calcanhares de Dorothy Parker, ser capaz, pelo menos, de alinhavar metonímias ao jeito de Inês Teotónio Pereira. Uma pessoa quer mostrar-se inteligente, sofisticada. Combinar Eça com a praia do Ancão ou, mais a Norte, com a praia de Moledo.
Há uns anos seria fácil. Bastava saber que meias brancas era um horror e pronunciar pasta em vez de massa. A banalização do sushi e, antes do sushi, do salmão, veio complicar tudo, tornando cada vez mais difícil saber "quem é quem".
Os novos-ricos desataram a confundir-se de modo obsceno com os ricos de pedigree, e o bom gosto, esse enfado ao qual tendem a alapar-se todas as almas sem visão, vingava, at last!, enterrada para sempre a fase inenarrável (uma palavra cheia de pedigree…) dos “azulejos casa de banho” que davam lugar aos mármores e outros materiais nobres.
A crise veio repor as coisas no seu lugar. Enterrado provisoriamente o machado de guerra, a luta de classes retorna à cena e o Povo volta a comer frango com as mãos.
O empobrecimento galopante do país leva o governo a fazer um update das profecias de Manuel Pinho, adaptando o Portugal West Coast à nova realidade: de West passamos para East.
Em resumo: se sobre os reformados portugueses pesa o cutelo das taxas, deslocada a fronteira intransponível do CDS para ponto cardeal desconhecido, já os reformados estrangeiros ficam isentos de IRS em Portugal, esperando a AR com esta medida transformar isto (que nome dar a isto?) na “Flórida da Europa”, abandonada a Califórnia.
Chegados aqui, resta às mulheres patriotas deixar crescer o buço de antanho, o que nos tornará decerto mais pitorescas e o país mais apelativo e mais rico.

1 comentário:

m.a.g. disse...

E eu que li: da depilação à não- depilação e já ia por aí afora com a descoloração, pois...
"Tira-se o bigode ao Seixas rapa-se o bigode ao Lopes e prega-se uma grande pêra na dona Cândida"... "Isto é fundamental!"