Um político profissional é tal & e qual como um pai ou uma mãe: qualquer imbecil pode sê-lo.
Assim como a Natureza não coloca, por princípio, entraves à reprodução da espécie, assim os Homens não colocam entraves à eleição de políticos.
Portugal, conhecido desde há muito como um “país de doutores” (o que O’Neill nos recordou nos sugestivos versos: “País engravatado todo o ano e a assoar-se à gravata por engano”), tem preservado a tradição, insistido em ser governado por engenheiros e outros licenciados.
Foi no já vetusto ano de 1935 que Discepolín compôs o tango “Cambalache” (“¡Todo es igual!/ ¡Nada es mejor!/ Lo mismo un burro/ que un gran profesor”); entre nós as equivalências mantêm-se bem vivas, não me referindo eu agora às equivalências obtidas, com toda a licitude, esclareça-se, por alguns dos nossos governantes.
A questão que me traz, todavia, é outra. Gostava de dizer duas ou três palavras sobre o problema da linguagem.
No princípio era o Verbo e o Verbo é o que se opõe ao Caos, mas longe de mim tentar rivalizar com a erudição teológica de Zita Seabra ou João César das Neves. Fixemo-nos, antes, em dois problemas que têm inquietado filósofos e linguistas: determinar a relação entre pensamento e linguagem; relacionar linguagem e realidade (vamos pressupor, axiomaticamente claro, que tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado).
Na frase deixada pelo primeiro-ministro no Facebook este Natal – “Muitas famílias não tiveram na Consoada os pratos que se habituaram.” – acha-se indubitavelmente linguagem. Haverá pensamento? Analisando-a agora na sua relação com a realidade: a que raio se terão habituado os pratos?
E nunca o título destas crónicas fez tanto sentido: isto anda tudo ligado!
05/01/13
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