Gosto muito de Santo Agostinho. Apesar disso, só posso dar razão a Jim Hankinson quando este escreve em “O Especialista Instantâneo em Filosofia”, a propósito da chamada Idade das Trevas: “a pouca filosofia que existia na Europa sofreu uma viragem depressivamente teológica, centrando-se em disputas tais como se Deus era Uma Pessoa em Três ou Três Pessoas Numa, a natureza exacta da Substância do Espírito Santo e quantos anjos podem dançar na cabeça de um alfinete (no caso improvável de desejarem realmente fazê-lo)”.
Séculos passados sobre a castração de Abelardo e a Querela dos Universais, deparamo-nos com a polémica sobre o burro e a vaca. Ao que parece, o Papa terá sido mal citado. Bento XVI, apesar de ter escrito que tais criaturas não constam no registo bíblico, nunca ordenou que fossem excomungadas do presépio.
Não deixa de ser curioso, contudo, o ruído à volta das declarações do chefe da Igreja católica. Jornais, televisões e redes sociais atiraram-se aos pobres animais como cães a osso, e os debates renhidos sobre a existência de Deus deram lugar a acesas discussões sobre a existência dos dois quadrúpedes.
Que nos seja permitido suspeitar que tal deriva teológica substancia um empobrecimento intelectual do mundo, a que acresce o facto de ninguém nos garantir que a veemência posta na defesa dos pobres bichos não possa igualar, em fanatismo, o vigor com que foi afirmado o Ser Supremo.
É dos livros que a fé move montanhas e tende a deixar um rasto de cadáveres. Chato mesmo, é que nada nos garante que sem fé a coisa tivesse corrido melhor, apesar de alguns estudos afiançarem que os países nórdicos (com maior % de ateus) são socialmente mais justos. E se a coisa for do clima?
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