18/12/12

A book a day keeps the doctor away: "Os Superficiais"


O tema anda a ser falado por aí. António Damásio, por exemplo (que é citado por Nicholas Carr), referiu-se-lhe a “vol d’oiseau” em “O Livro da Consciência”: “(…) as capacidades geradas pelas multitarefas [da era digital] trazem vantagens espantosas; em contrapartida, poderá haver um custo em termos de aprendizagem associativas, consolidação de memória e emoção. Não temos ainda ideia de qual poderá ser esse custo.” 
Carr dedica ao assunto um livro inteiro, significativamente chamado: “Os Superficiais”. O resto do título define com igual clareza a sua área de estudo: “O que a Internet Está a Fazer aos Nossos Cérebros”. 
Défice de atenção e dificuldade de memorização são alguns dos pavores que assombram a educação, mesmo se, infelizmente, os responsáveis preferem distrair-se com polémicas oitocentistas. A tese de Carr é clara: as vantagens do uso da Internet não podem fazer esquecer os seus malefícios – que não são poucos: “A internet é uma tecnologia do esquecimento” (pág. 239). 
“Os Superficiais” é um passeio fascinante pelas alterações que as novas tecnologias estão a introduzir na nossa mente (e também no nosso comportamento emocional). A obra assenta em dois pilares fundamentais: na neuroplasticidade (o cérebro individual não é uma estrutura de betão e “educa-se” ao longo da vida com a experiência) e na famosa convicção de McLuhan: “O meio é a mensagem”. Entre as visões determinista e instrumentalista da tecnologia, Carr tenta uma 3ª via, mas, embora as suas conclusões não sejam apocalípticas, algum desconforto se instala no leitor quando o acaba de ler: estará a internet a embrutecer-me? 
Depois pensamos: se ele próprio conseguiu escrever 326 páginas sobre isso talvez ainda haja esperança!

Os Superficiais - O que a internet está a fazer aos nossos cérebros,  Nicholas Carr, Gradiva, 2012, trad. de Luiza Alves da Costa, 326 páginas

1 comentário:

pilantra disse...

Já nem precisamos ler o António Damásio, isto está a ficar banal.
Li um artigo do psiquiatra Pedro Afonso no público e
aquilo dos alunos passivos (abúlicos?) é muito preocupante (para mim).
Há os que grunhem mas respondem a grunhidos. Há os que gostam de noitadas, de copos, de musica, de charros ou de qualquer coisa seja lá isso o que for. Mas há uma larga «franja» deles cuja vontade militante é o tanto lhes faz desde que se esqueçam deles.
Mutantes? pois sim. Mas temo que mutantes prarrelvas, não prapessoas.