O tema anda a ser falado por aí. António Damásio, por
exemplo (que é citado por Nicholas Carr), referiu-se-lhe a “vol d’oiseau” em “O
Livro da Consciência”: “(…) as capacidades geradas pelas multitarefas [da era digital] trazem vantagens
espantosas; em contrapartida, poderá haver um custo em termos de aprendizagem
associativas, consolidação de memória e emoção. Não temos ainda ideia de qual
poderá ser esse custo.”
Carr dedica ao assunto um livro inteiro, significativamente chamado: “Os Superficiais”. O resto do título define com igual clareza a sua área de estudo: “O que a Internet Está a Fazer aos Nossos Cérebros”.
Défice
de atenção e dificuldade de memorização são alguns dos pavores que assombram a
educação, mesmo se, infelizmente, os responsáveis preferem distrair-se com polémicas
oitocentistas. A tese de Carr é clara: as vantagens do uso da Internet não podem
fazer esquecer os seus malefícios – que não são poucos: “A internet é uma
tecnologia do esquecimento” (pág. 239).
“Os Superficiais” é um passeio
fascinante pelas alterações que as novas tecnologias estão a introduzir na
nossa mente (e também no nosso comportamento emocional). A obra assenta em dois
pilares fundamentais: na neuroplasticidade (o cérebro individual não é uma
estrutura de betão e “educa-se” ao longo da vida com a experiência) e na famosa
convicção de McLuhan: “O meio é a mensagem”. Entre as visões
determinista e instrumentalista da tecnologia, Carr tenta uma 3ª via, mas,
embora as suas conclusões não sejam apocalípticas, algum desconforto se instala
no leitor quando o acaba de ler: estará a internet a embrutecer-me?
Depois
pensamos: se ele próprio conseguiu escrever 326 páginas sobre isso talvez ainda
haja esperança!
Os Superficiais - O que a internet
está a fazer aos nossos cérebros, Nicholas Carr, Gradiva, 2012, trad. de Luiza Alves da Costa, 326 páginas
1 comentário:
Já nem precisamos ler o António Damásio, isto está a ficar banal.
Li um artigo do psiquiatra Pedro Afonso no público e
aquilo dos alunos passivos (abúlicos?) é muito preocupante (para mim).
Há os que grunhem mas respondem a grunhidos. Há os que gostam de noitadas, de copos, de musica, de charros ou de qualquer coisa seja lá isso o que for. Mas há uma larga «franja» deles cuja vontade militante é o tanto lhes faz desde que se esqueçam deles.
Mutantes? pois sim. Mas temo que mutantes prarrelvas, não prapessoas.
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