20/08/12

Novena pelos submarinos



Tentamos contrariar C.P. Snow mas as duas culturas persistem. O mesmo não é ser engenheiro pelo Técnico e politólogo pela Lusófona. That’s a fact. E se resolver equações diferenciais não será a característica mais sexy que se pode encontrar num homem, convenhamos que ouvir palestrar sobre “Reformar o Estado: uma prioridade nacional” se mostra um perigoso convite à apneia do sono. 
Fora mais dado à ciência o país, e o Estado não teria apoiado uma empresa cujos painéis solares, garantia a dita, funcionavam com céu nublado, chuva e até “na noite muito escura”. Tal como também não alinharia num Programa Nacional de Barragens cuja única finalidade é rentabilizar o negócio das “ventoinhas” ciclópicas que enchem a paisagem – a custo zero para as empresas que nos venderão depois energia a preços Haute Couture. 
O exemplo mais recente da diferença entre as duas culturas chegou-me, porém, pela mão de Ferreira Fernandes, alguém que não sendo formado em Astrofísica fez a única leitura científica do badalado diálogo Mário Crespo/Zita Seabra sobre espionagem via ar condicionado e outros devaneios próprios de Henri de Lagardère. 
Enquanto a maioria dos comentadores se ficou pela gargalhada e pela jocosidade, e a PGR declarou, com a gravitas habitual, ir “exercer as suas competências, caso exista fundamento legal”, o jornalista escalpelizou os factos com a argúcia de um homem de ciência: “Aparelhos de escuta usam-se em floreiras, relógios, botões, lamparinas e o agente Olho Vivo até num sapato. Tudo objectos silenciosos. Em ar condicionado?” 
Na ausência de espírito positivo, rezar a novena “A Stº António Para Achar Coisas Perdidas” talvez seja uma solução no caso dos submarinos. Como diria Pascal, mal não faz.

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