Começando pelo fim. No último capítulo de Poeira da Alma, o reputado psicólogo evolucionista Nicholas Humphrey cita o filósofo Tom Nagel, um crítico das teorias reducionistas da mente (“Sem consciência, o problema mente/corpo seria muito menos interessante. Com consciência parece insolúvel”), reformulando-lhe a frase: “sem consciência, os seres humanos seriam muito menos interessantes. Com consciência, parecem quase demasiado interessantes para serem traduzidos em palavras”.
Arriscar em palavras uma nova teoria da consciência é o objectivo de Poeira da Alma. Um risco justificado logo no início quando, a propósito de uma crítica a obra anterior, então classificada
como “apenas profundamente interessante”, Humphrey pergunta: (…) quem quereria ter um epitáfio a dizer que as suas ideias eram ‘apenas profundamente interessantes’?”
O humor. O humor atravessa o livro, naquele registo reconhecidamente britânico, capaz de rir de coisas sérias. E a consciência é um caso sério. Tão sério, que há quem garanta que é um problema – cientificamente – impossível. Mais ainda do que os “objectos impossíveis” cujas imagens são reproduzidas ao longo das páginas, começando pelo “triângulo de Penrose”, “ilusão de perspectiva” que Humphrey vai “transpor” para o tema da consciência, registando-a, afinal, como
um cenário de magia que nós próprios criamos dentro das nossas cabeças.
Tal cenário, contudo, tem finalidade biológica, é fruto da evolução das espécies e mesmo funda a espiritualidade humana, que o investigador, aliás, distingue do espírito religioso, avançando até “que provavelmente a espiritualidade ainda é mais adaptativa sem a religião”.
Um ensaio fascinante e provocador.
Poeira da Mente, A Magia da Consciência, 2012, tradução de Ana Falcão Ramos, Gradiva
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