Caro leitor, acabo de ler um livro chamado A Queda de Wall Street que traz a assinatura do norte-americano Michael Lewis e sinto-me no dever de comunicar-lhe o seguinte: a coisa foi (é) muito pior do que imaginar se possa.
Lamento não trazer boas notícias mas, amicus Plato, sed magis amica veritas, cá vai: como já cantava Paul Anka em 1968, vivemos num crazy world!
E a loucura é tanta e tão tamanha que, acabada a leitura, só me apetecia ter ao lado alguém que me segredasse “put your head on my shoulder” ou, em versão brasileira, “encosta sua cabecinha no meu ombro e chora”, clássico que chegou a ser gravado por Fábio Júnior, galã da Rede Globo um tanto brega que arrancava corações há largas décadas, não direi no tempo em que os animais falavam mas decerto no tempo em que a economia era matéria relativamente acessível a pessoas como nós.
Conclusão pós-leitura: eles andam a dar-nos música!
Dito isto, o problema (no livro e na vida real) não está tanto no facto de os ricos estarem a ficar mais ricos e os pobres passarem fome – até aí, tudo na mesma.
O assustador é que: 1. eles não sabem o que fazem; 2. nós temos dificuldade em perceber como o fazem.
Não quero complicar, mas imagine um cocktail de realidade virtual, crédito imobiliário, no limit hold’em poker, roleta russa e porta-moedas vazios.
Como mistura já parece bastante explosiva; se a isso se acrescentar que o comum dos mortais não mora no hiper-espaço nem percebe necessariamente de poker, o resultado só podia (pode) ser um big buraco negro.
Acrescento apenas isto: no livro, os melhorzinhos da história ainda foram os que previram a chegada do black hole e apostaram (ganharam) milhões na tragédia anunciada. Confused? Também eu. Aguarde-se pelos próximos episódios. Para já em grego.
19/02/12
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2 comentários:
"O assustador é que: 1. eles não sabem o que fazem"
"O que fará com que um governo perturbe, mesmo contra os seus objectivos, a naturalidade própria dos objectos que manipula e das operações que realiza? O que fará com que vá assim violar essa natureza, mesmo contra o êxito que procura? Violência, excesso, abuso, talvez, mas no fundo desses excessos, violências e abusos, não será simplesmente, não será fundamentalmente a maldade do príncipe que é posta em causa. O que é posto em causa, o que explica tudo isso é o facto de, no momento em que viola essas leis da natureza, ele as desconhecer. Desconhece-as porque ignora a sua existência, ignora os seus mecanismos, ignora os seus efeitos. Por outras palavras, os governos podem enganar-se. E o maior mal de um governo, o que faz com que seja mau, não é o facto de o príncipe ser mau, mas de ser ignorante."
Michel Foucault, in Nascimento da Biopolítica, 1978
obrigada, margarete
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