18/03/11

Mangualde beach e a rua árabe

Tom Waits não se referia aos árabes mas que estava damn right estava: (...) vivemos no meio de uma revolução e ninguém sabe de que lado vêm as pedras. Se ao desabafo de Waits juntarmos um aforismo atribuído a Twain, conseguiremos um zoom aproximado à cena actual. E o que Mark Twain terá dito foi: A profecia é um género muito difícil, sobretudo quando aplicado ao futuro.
Andávamos, pois, bestialmente entretidos com o gigante chinês, o aquecimento global, as duas Coreias, a crise do Euro e a praia de água salgada projectada para Mangualde quando o pessoal árabe resolveu sair à rua.
O preço dos combustíveis disparou, foi-se o milhão de Magalhães que ia ser exportado para a Líbia, e até a Nelly Furtado perdeu dinheiro ao anunciar no Twitter ir doar o milhão de dólares que recebeu em 2007 para cantar para Kadhafi, ainda o homem não era um ditador anacrónico.
Neste estado de coisas, suspenderam-se as chinesices e regressou-se aos árabes. Alguns correram a ligar a Al Jazira. Eu – sem televisão há já um bom par de anos por recomendação de uma junta médica – pusera-me à procura na estante d' O Quarteto de Alexandria.
Entretanto, cresce o número de interessados nos direitos humanos na Líbia, assunto que, dizem os cínicos, tem qualquer coisa que ver com petróleo, o que talvez seja verdade até porque segundo consta Diógenes, o maior de todos os cínicos, tinha por casa um barril.
Adiante. Não encontrei o Durrell mas tropecei na Bíblia do Humor Judaico, o que também me deu jeito. Cito:
Um passarinho caiu do ninho num dia de muito frio. Pia desesperadamente até que passa um menino que o agarra e coloca num monte de estrume ainda quente. O passarinho, quentinho, desata a cantar em louvor do salvador. É então que passa uma raposa que, ao ouvi-lo, pula de contentamento e o devora.
Moral da história.
1º: Nem sempre aquele que te põe na merda te quer mal;
2º: Nem sempre aquele que te tira da merda te quer bem;
3º: Porquê cantar quando se está na merda?

No fundo, está tudo nos livros.

3 comentários:

Anónimo disse...

fantástico!

James disse...

Estive (há uns anos) , no regresso a Itália, a espreitar a casa que era do Durrell naquela ilha grande que tem dois nomes (em grego é «Kerkyra») que fica em frente à Albânia.
Também não sei onde pára o meu Quarteto, mas isso resolve-se.
Julgava que era o anão de Heidelberg que vivia num tonel...
Waits e o homem do Missisipi ainda por cá andam, mas não sabia que essa estória que cita no fim vinha de uma Bíblia do Humor Judaico, coisa de que nunca tinha ouvido falar...
Vou ter que me informar: como se faz uma praia de água salgada em Mangualde, se akilo fica a kilómetros do mar ?
Não lhes chega o Patriarcado e akele excelente restaurante lá p'ra cima ?

fallorca disse...

Sempre de garra afiada; e foi só uma espreguiçadela, ao soleil de la plage de Mangualde-sur-Rive